De passagem pelo Brasil para promover o longa “A Mulher Rei”, Viola Davis reuniu a imprensa na última segunda-feira (19) para falar mais sobre a produção. O encontro aconteceu no Copacabana Palace, no Rio de Janeiro, e a atriz estava acompanhada do marido e produtor Julius Tennon.
A convite da Sony Pictures, a Poltrona Vip esteve presente no evento, onde a artista vencedora do Oscar contou mais sobre o preparo para o filme, a importância da representatividade, sobre a experiência no Brasil e mais assuntos. Davis começa falando sobre as primeiras impressões do país e destaca que o Brasil sempre parece estar em festa.
“Eu me senti abraçada, pela comida, pela cultura, pela bondade. E sempre parece haver uma celebração aqui no Brasil, se é que eu posso dizer isso. Mas o amor de vocês pelo seu país, tem sido de tirar o fôlego.”, conta a atriz que destaca o que mais está gostando no país. “Eu acho que é uma mistura, da comida, com a paisagem… O Cristo Redentor, quando estávamos indo até ele dirigindo e vimos as montanhas, as árvores, o mar, e quando chegamos até lá, ficamos sem reação, eu e o Julius.”, completou.
Viola não deixou de falar da importância do Brasil como audiência do longa e destacou: “Por causa do tráfico negreiro transatlântico, sabemos de cerca de 12 milhões de pessoas escravizadas vieram em sua maior parte da África Ocidental. E a primeira parada, foi o Brasil. Por causa das plantações, foram enviados para várias partes da Índias Ocidentais e também para a América. Muitos acreditam que nós da cultura preta, estamos separados, que os afro-americanos, os afro-caribenhos, e do Brasil, de alguma forma não nos sentimos conectados como um todo. E minha mente esteve aberta em relação a isso desde os meus 20 anos, quando fui até a Gâmbia. Mas nós estabelecemos isso com o filme, a conexão que temos como pessoas de cor, e a contribuição do Brasil para isso é enorme.”
A representatividade
Davis continua falando ainda da importância de “A Mulher Rei” na vida das mulheres pretas ao redor do mundo e em como elas podem se sentir vistas e representadas pela produção. “Elas têm uma chance de serem vistas, de uma maneira que nós não temos sido vistas antes. E quando eu digo ‘vista’, eu digo ter espaço como os grandes diretores, grandes atores e atrizes, e não temos presença neles. Eu não estou falando apenas sobre ser vista no cinema, mas sobre ser vista na vida. Na maioria das vezes, o nosso poder e a nossa beleza não são vistas. Nossa complexidade é ignorada, existe um ‘senso comum’ de que somos tão fortes, que não somos nem vulneráveis.”, começou.
“Existe também um senso de que somos invisíveis até mesmo em relação às nossas contrapartes brancas, nossas contrapartes femininas brancas e eu acho que mais uma vez, no que isso culmina, é o fato de termos tantos problemas que afetam as mulheres pretas. Por não sermos vistas como valiosas. As Agoge, se veem como valiosas, e esperamos que dessa forma, façamos as mulheres pretas verem como são valiosas, pois no final, tudo se resume a isso. E é muito importante para que nós, mulheres pretas, possamos ser um dos filmes com maior arrecadação mundial, que não precise ter uma presença masculina – que não precise nem mesmo ter uma presença branca, são só elas. Elas são as heroínas, elas são o foco do filme. Aquelas mulheres negras lindas, de cabelo cacheado de pele escura, vão ser assistidas por duas horas e seis minutos e você vai conhecer suas vidas. Acho que isso vai ser tudo para nós.”, continuou.
Julius também comentou sobre a importância do filme e de contar essa história e destaca a força feminina. “É importante contar essa história, pois muitas histórias como essa não foram contadas. É uma história que tem muita força e as mulheres tem muita força. E tradicionalmente, as mulheres carregam muito peso, e essas histórias foram contadas e contar essa história é importante, pois precisamos ver essas mulheres em papéis fortes e incríveis, que elas vivem no dia-a-dia. Eu ouço muito que as mulheres precisam ser a heroína da família tradicionalmente, pois elas normalmente são as responsáveis por resolver problemas na família. E eu acho que é a hora, e nós fizemos isso, e podemos esperar e torcer para que mais histórias como essa sejam contadas e possamos ver a força dessas mulheres na tela.”
“Infelizmente, o racismo fez um papel de criar um sistema de castas baseada no que você vale, de acordo com seu papel. E as mulheres negras estão no final dessa lista e quando você tem a pele retinta, você é designada a esse lugar no final da lista. E esse é o pior tipo de preconceito que existe no mundo, o colorismo. Nós sempre somos vistas como advogadas, médicas que não tem nomes nos filmes, e a pessoa que chega de última hora e faz um comentário atrevido, ou um comentário bem inteligente. Mulheres que geralmente são obrigadas a serem fortes e muitas mães, que geralmente choram em cima do corpo do filho delas, por terem sido mortos em um tiroteio. E é uma visão muito, muito, muito reduzida do que nós somos de verdade.”, completou Viola.
Uma das maiores atrizes da atualidade e uma das mais queridas pelo público, Viola constantemente usa a influência que conquistou com a carreira para falar sobre a representatividade de mulheres negras. Durante a conversa com a imprensa, a artista refletiu sobre como o racismo colocou a mulher negra no lugar mais baixo da lista.
“Infelizmente, o racismo fez um papel de criar um sistema de castas baseada no que você vale, de acordo com seu papel. E as mulheres negras estão no final dessa lista e quando você tem a pele retinta, você é designada a esse lugar no final da lista. E esse é o pior tipo de preconceito que existe no mundo, o colorismo.”, disse.
Viola comenta que as mulheres pretas estão presentes sempre em personagens sem nome, sem história, que geralmente choram pela morte violenta de um filho. “Nós sempre somos vistas como advogadas, médicas que não tem nomes nos filmes, e a pessoa que chega de última hora e faz um comentário atrevido, ou um comentário bem inteligente. Mulheres que geralmente são obrigadas a serem fortes e muitas mães, que geralmente choram em cima do corpo do filho delas, por terem sido mortos em um tiroteio. E é uma visão muito, muito, muito reduzida do que nós somos de verdade.”, completou Viola.
“Toda vez que eu vejo uma mulher negra em tela, eu sempre me pergunto ‘Quem é ela?’ e quando eu termino de fazer essa pergunta, ela já saiu de cena, e não pode mais ser vista ou encontrada em lugar nenhum. Eu estou cansada disso, na minha vida, eu sei quem são essas mulheres, e essas são muitas, são complicadas, repletas de beleza, de emoções, são uma bagunça, elas são alegres e as vezes elas não são mães, não são tias, e eu sei os nomes delas, sei quem elas são. Eu quero que as mulheres negras sejam humanizadas da mesma forma que todo mundo. E que todos possam aderir de fato o que chamam de ‘diversidade’, e acabem de vez com o racismo. E que esse seja o primeiro passo para fazer isso. É entender que todos somos parte da raça humana. E que não somos objetos de roteiro, não somos uma metáfora, e é impossível existir um artista negro, se não houver uma narrativa que mostre isso. Essa é a razão.”, diz a atriz.
Em determinado momento da conversa, Davis até mesmo citou dois outros grandes nomes do cinema. “Eu importo tanto quanto uma Meryl Streep, uma Julianne More. Não ligo se não sou loira, eu não ligo se não visto 34, eu ainda importo, ainda sou merecedora. E o que criamos no cinema tem que refletir tudo isso.”, disse Viola, que ressalta que finalmente encontrou o próprio lugar em “A Mulher Rei”.
Desafios e preparação
“A Mulher Rei” encontrou diversas dificuldades para ser produzido e Viola é sincera ao relatar como foi o processo. “Enfrentamos muitos desafios no meio do caminho, mas é claro que tentamos contornar esses desafios. Quando me perguntam ‘como é fazer um filme de pessoas de cor em Hollywood?’, eu os digo a verdade. É uma coisa difícil, é uma história que precisamos contar, é uma coisa que precisamos fazer. É assim que queremos fazer. E mesmo com todos esses desafios, ultrapassá-los e ter um filme como o nosso como resultado, e eu acho que pessoas de cor, por toda a diáspora vão se sentir tocadas. E mudadas para sempre, nós sentimos que esse filme pode proporcionar a diferença que queremos ver.”, contou.
Ainda sobre as dificuldades, Julius comentou: “Levamos cerca de sete anos no total para fazer esse filme e ao longo do processo houve uma série de desafios. Quando você faz um filme de pessoas negras em Hollywood as coisas não são fáceis, e você tem que manter bem o foco do que vai fazer, de que história quer contar e de qual maneira você quer honrar e representar essas pessoas na tela. Apesar das dificuldades, o resultado final nós sentimos ser capaz de emocionar muitas pessoas ao redor do mundo”.
A atriz, que considera o filme um drama histórico, conta que o processo de preparação para viver a guerreira Nanisca foi árduo, mas além do físico, também precisou treinar o dialeto e o emocional. “Enquanto eu me preparava para dar vida a Nanisca, e uma parte do que ela é, é uma guerreira. E eu precisei fazer isso. Eu precisei fazer esse trabalho, assim como eu precisei treinar, eu precisei fazer um curso de dialeto, eu precisei fazer um treinamento emocional. Nós treinávamos 5 horas por dia, de levantamento de peso, corrida, 3 horas e meia de artes marciais. Durante esse tempo, nossas roupas ficavam ensopadas de suor. E por diversas vezes, na metade do treinamento, eu precisava trocar de roupa e continuava. Eu pegava a minha espada de plástico e minha garrafa de água e seguia em frente treinando.”, detalhou.
“Eu precisava treinar artes marciais, usei muito o meu cotovelo – Que eu amei! – e corria mais, e então precisava ter uma alimentação muito regrada. Eles queriam que eu ficasse forte, muito musculosa. Pois, Nanisca precisava ser fisicamente forte. Em algumas cenas, queriam que eu usasse uma espada de metal que normalmente só era possível empunhar com duas mãos e eles precisavam que eu a empunhasse com apenas uma mão.”, continuou.
Baseado em uma história real, “A Mulher Rei” chegou aos cinemas brasileiros na útima quinta-feira, dia 22 de setembro. A produção conta com direção de Gina Prince-Bythewood e traz Thuso Mbedu, Lashana Lynch, John Boyega, Adrienne Warren, Sheila Atim, Jayme Lawson e Hero Fiennes Tiffin no elenco.
Assista ao trailer da produção: