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“Florescendo”: Vanessa Giácomo estrela antologia de curtas do Paramount+

Foto: Divulgação

Em tempo ao Dia Internacional da Mulher, o Paramount+ lançou na última segunda-feira (26) a antologia “Florescendo”, composta por cinco curtas-metragens. A coleção que investiga as complexidades das questões de gênero traz o curta brasileiro “Maré”, protagonizado pela estrela Vanessa Giácomo (“Sinhá Moça”, “Amor à Vida”, “A Regra do Jogo”, “Travessia”).

“Florescendo” foi produzido pela MTV Staying Alive Foundation com apoio da Paramount Global e apoio financeiro da Fundação Bill & Melinda Gates. A coletânea instigante conta histórias inéditas que retratam uma série de questões cruciais, incluindo pobreza menstrual, casamento infantil, violência de gênero, estigma ao redor do HIV, o planejamento familiar e o empoderamento econômico das mulheres. 

A antologia é idealizada por cinco cineastas, sendo elas do Brasil, Nigéria, Quênia, Índia e EUA, que se posicionam enquanto novas vozes criativas e permitem conversas perspicazes para desmantelar injustiças sistémicas. Ao lado das cinco diretoras, “Florescendo” tem produção executiva de Georgia Arnold, Richard Chang-Warburton e Sara Piot para a MTV Staying Alive Foundation.

Confira a ficha técnica de todos os curtas: 

• Maré | Escrito e dirigido por Giuliana Monteiro: Uma mãe no limite da sanidade busca consolo em uma situação tumultuada em sua vida. Estrelando: Vanessa Giácomo.
• Period | Escrito e dirigido por Nicole Teeny: Como muitas de suas colegas de classe em sua escola carente, Fay não pode comprar itens para seu período menstrual, então ela inicia uma jornada para obtê-los de graça. Estrelando: Yasmina El-Abd.
• Alta | Escrito e dirigido por Priyanka Banerjee: Uma adolescente desafiadora que se recusa a sair do banheiro força seu pai indefeso a procurar ajuda para argumentar com a garota, mas as coisas mudam quando o verdadeiro relacionamento deles é revelado. Estrelando: Mazel Vyas.
• Kifungo | Escrito e dirigido por Voline Ogutu: Uma mulher romântica e ambiciosa luta pela autoaceitação depois de descobrir que é HIV positiva. Estrelando: Brenda Wairimu.
• Aféfé | Escrito e dirigido por Dolapo “LowlaDee’ Adeleke: Quando sua sogra idosa e doente se muda, inesperadamente, a vida de uma apaixonada esteticista local toma um rumo assustador. Estrelando: Folu Storms.

Os desafios

“Maré” tem direção e roteiro assinados por Giuliana Monteiro e um dos maiores desafios do formato de produção mais curto é realmente criar a conexão do público com o personagem. “Desde o começo a gente sabia que era uma antologia de filmes e tinha alguns temas que a gente queria trabalhar. Cada um escolheu um tema e eu acabei escolhendo a violência contra a mulher. E, para mim, era muito importante desde o ponto de partida que a gente trabalhasse não só a violência física, mas também a violência emocional, psicológica, econômica. O fato dessa mulher estar morando num outro país, cria um layer também para ela de dificuldade, a rede de apoio dela é limitada. E eu acho que eu queria que as pessoas conseguissem sentir o que ela está sentindo internamente. E esse é o desafio, transformar algo que é tão interno em externo.”, explicou Monteiro.

“A minha linguagem é mais delicada, é mais sutil, mas eu queria que você conseguisse sentir ali em pouco tempo o que essa mulher está passando, porque é a realidade de muitas mulheres que às vezes estão sendo julgadas, talvez. E acontece isso diariamente.”, completou a diretora, que relembrou mais uma das cenas. “Outro dia eu estava conversando com um amigo e ele falou ‘Gil, mas essas mulheres no supermercado elas acabam com você’. Situações do dia a dia mesmo que a gente percebe, e eu queria trazer isso para o filme, de uma forma bem dinâmica e tal, que você pudesse não julgar, sempre com esse pensamento. Eu não quero julgar essa mulher, mas olha o que ela está vivendo. E mostrar essa sociedade em volta também, o julgamento que essa sociedade faz essa mulher muitas vezes.”

Sensibilidade nos detalhes 

Vanessa vive a protagonista da trama de “Maré”, interpretando uma personagem que é mãe de duas crianças e vive em um lar abusivo. Com uma linguagem profunda e com um texto bastante sutil, o sentimento é transmitido no olhar, gestos e nos detalhes. A edição foi parte importante na obra para que o público pudesse se conectar com aquela mulher.

“Ela [Giulana] tem que tirar as cenas que ela acredita ser muito importante, porque tem que ter um tamanho de curta. […] Depois que a gente assistiu, eu falei ‘Giu, está tudo certo, porque está tudo ali. É muito claro a mensagem que você quis passar, que você idealizou, pensou, escreveu e tudo’. É muito lindo, mas o texto já estava muito redondinho. Quando eu recebi o roteiro, ele já era muito redondo, muito cirúrgico, sabe?”, disse a atriz.

“É tão bonito fazer um projeto desse, porque a mulher é o tempo inteiro julgada por outras mulheres, até, por exemplo, na maternidade, que eu tenho três filhos. Você está grávida o tempo inteiro, alguém está falando como é, como tem que ser, que você tem que ser assim, tem que ser parto normal, tem que ser isso porque senão você não é a melhor mãe do mundo, você não amamentou tanto tempo. Então, sabe assim, é o tempo inteiro que você está tendo que arrumar, justificativa.”

Na trama, a mulher vive em outro país bem distante da família e sem rede de apoio. A história se desenrola durante um passeio de carro em que a personagem vai ao supermercado e deixa as crianças sozinhas no carro. “Essa complexidade que é o feminino e principalmente estando em outro país, porque aí é outra cultura, você não está com a família perto, você não tem nada perto. Tudo foi muito pensado, porque faz uma diferença tanto para o roteiro, como para mim, interpretando assim, imagina você não ter uma amiga para conversar. O diálogo é muito importante.”, conta Vanessa. 

“A gente precisa de uma rede de apoio e essas mulheres não têm nenhuma, porque rede de apoio não é só uma funcionária, não sei o que, é tipo, caramba, um dia que eu preciso fazer uma coisa muito importante. Posso deixar meus filhos com você, meu amigo, minha mãe, minha tia, minha vizinha, né? Quando você não tem nada, como você faz? […] E isso tudo, a gente pensou, porque a gente queria realmente retratar todo esse tipo de violência velada, né”, completou.

Ainda sobre as violências, Giácomo comenta sobre os abusos sofridos pela personagem de “Maré” e a dificuldade que a mulher encontra para se libertar de determinados tipos de abuso. “Ela não tinha alguém para ajudar, ela não tinha com quem contar. Então ela vai anulando a vida dela, ela vai anulando para viver com os filhos e vai vivendo vários tipos de violência ali. A patrimonial, a econômica, que ela não tem como sair, e muitas mulheres passam por esse tipo de violência porque elas não sabem como sair dessa situação. A emocional, a psicológica, a violência física já é difícil a pessoa identificar, mas ainda assim você pode falar para alguém, alguém falar ‘Cara, estou aqui, vou te ajudar’. Agora a econômica faz como com três crianças, duas crianças, com filhos, em outro país, como é que você tem um dinheiro para a passagem para voltar, se você não trabalha, se você anulou a sua vida para cuidar dos filhos, entendeu? Então, são acordos, assim, que às vezes se  tornam muito difíceis da mulher sair dessa situação.”, finaliza.

“Florescendo” vai impactar e fazer refletir 

Citando a frase “Eu não aspiro a que as mulheres mudem apenas a situação das mulheres, mas que as mulheres mudem o mundo” de Simone de Beauvoir, Giuliana diz que o projeto “Florescendo” não é apenas para o público feminino, mas espera que os homens também assistam e possam se conectar com as histórias também. “É um filme que não é só para mulher, porque a gente queria que o homem pudesse se conectar também. Que ele pudesse entender muitas vezes o que está acontecendo no universo feminino, porque nem mesmo a mulher às vezes sabe dar conta.”, comenta.

Com os curtas já disponíveis no Paramount+, Giuliana conta que já recebeu feedbacks acerca da produção vindos de pessoas que se identificaram com as tramas. “Muita gente, pelo incrível que pareça, nesse final de semana me mandou mensagem, viu? ‘Eu me vi naquela personagem’ e ‘eu finalmente entendi o que eu estou vivendo’. Então, a importância também de trazer esses temas de representação nas telas para que as pessoas possam entender o que elas estão vivendo, para que um homem possa entender que uma agressão verbal é uma agressão.”, disse.

“Tenho amigas pessoais que falam ‘Eu não queria o quarto filho, mas meu marido queria tanto e aí a gente teve’. E eu fico pensando assim ‘Mas vocês nunca nem conversaram sobre isso? Porque é o seu direito não querer’. E aí quando você questiona uma mulher, mas você não queria filhos, ela é julgada pela sociedade. E eu falo, não, mas eu queria, eu amo meus filhos. Claro que ela ama os filhos dela, mas ela não teve escolha. Então, assim, a importância de trazer esses temas também e de desmistificar e de… É entretenimento, mas é um entretenimento com mensagem. É um entretenimento para que as pessoas possam se identificar, entender e talvez mudar esse mundo.”, finaliza.

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Escrita por Otavio Pinheiro