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Entrevista | Jared Amarante traz representatividade em livro com personagem trans, preto e gordo; saiba mais!

Jared Amarante – Foto: Josua / Stylist: Cleyton Vinicius Cost

O jornalista Jared Amarante lançou em janeiro o livro infanto-juvenil “Ariel – a travessia de um príncipe trans e quilombola”. Para a elaboração do projeto e num processo que durou quatro anos, Amarante realizou uma série de pesquisas e entrevistas para abordar todos os temas de maneira mais coerente e verdadeira possível.

Lançado pela Editora Giostri, o livro acompanha a história de história de Ariel um menino transexual, gordo e preto, que é levado a percorrer sua ancestralidade no Quilombocéu, onde enfrenta os seus medos, angústias e ansiedades, e desabafa após sofrer racismo e transfobia do próprio pai.

“Eu sempre quis ter uma protagonista trans, preto e gordo, mas eu fiquei mergulhado em pesquisas pra entender como eu, homem branco, magro e cis, iria compor a essência de Ariel. Então, seguramente, posso dizer que minha maior inspiração são os corpos trans, pretos e gordos, que muito amorosamente dividiram suas vidas, sonhos, travessias, medos e vitórias. Minhas trocas com essas coletividades me ajudou na construção deste personagem. Além disso, sempre foi um desejo ter uma obra mais ‘voltada’ ao público infantojuvenil, mas que na verdade pode (deve) ser lida por todos e que, também, fosse lúdica e com ilustrações. Então, neste projeto, acabei reunindo muitas vontades, e estou muito feliz e orgulhoso. Considero Ariel – a travessia de um príncipe trans e quilombola bastante único em nosso mercado.”, conta o escritor.

Para deixar a história ainda mais viva, Jared desenhou todo o projeto de uma forma que ele também ensinasse algo para as pessoas. O projeto contou com a colaboração de pessoas importantes para construção, como o psicólogo especialista em gênero e sexualidade Wellington Oliveira, entrevistas com pessoas trans e com as personalidades Jup do Bairro, Tarso Brant, Viviany Beleboni, Thales Alves e Lisa Gomes.

“Como comentei, vejo essa obra com bastante unicidade no nosso país, acredito que justamente por sua composição e abordagens. Porque temos um prefácio de Wellington Oliveira, um psicólogo especialista em gênero e sexualidade. Ilustrações de Nathan H. Borges; na sequência vem nove entrevistas de homens e mulheres trans do Brasil. Além disso, contém também comentários de Jup do Bairro, Tarso Brant, Viviany Beleboni, Thales Alves e Lisa Gomes, grandes personalidades brasileiras. Mas, além de toda essa estrutura, que é um diferencial, as temáticas trazidas são potentes protagonistas, porque nos faz pensar: as crianças, adolescentes e adultos, trans, pretos e gordos, não estão (continuamente) representados por qual motivo? Temos uma falha aí, como sociedade e criadores de arte. Então essa obra vem para somar às vozes pretas, trans e gordas, porque qualquer um que se cala diante da opressão que esses corpos sofrem diariamente, simplesmente, ajudará na manutenção de torná-los mais invisíveis, quase que com um desejo de extinção. Sobre meu processo, foi de muito estudo, pesquisas, entrevistas, diálogos. Então nasceu Ariel e viverá para sempre.”, conta.

Jared conta que espera que as pessoas possam receber o projeto e vê-lo de uma forma consciente, além de possuir o desejo de que este ajude as pessoas a se educarem sobre os temas. “Conscientes e dispostas a se psicoeducar, pois não podemos – na verdade, nunca pode -, em pleno século 21, ser a pessoa que reproduz transfobia, gordofobia e racismo. E pior ainda, ser aquele individuo que se cala frente a essas violências.”, diz o jornalista, que continua falando diretamente às pessoas trans. “Espero que as pessoas trans, pretas e gordas recebam este livro com amor, porque meu desejo é de reparação histórica, de pertencimento, de lutas antirracistas, antitransfóbicas e antigordofóbicas. E aos corpos cis, magros e brancos, espero que se eduquem, que se movimentem, que tornem o mundo melhor, mais justo. Temos essa obrigação!”, diz.

Amarante já pensa em lançar mais livros com a temática de “Ariel – a travessia de um príncipe trans e quilombola”. “Não podemos parar de buscar os diálogos, pois obras como essa colocam os corpos pretos, trans e gordos em lugar de realeza, protagonismo, nobreza; e sabemos o quanto a sociedade quer exatamente o oposto para essas coletividades. Falar desses corpos é também resistir na arte. Mas isso é minha missão de alma.”, revela.

O livro teve lançamento em um dia especial, Dia Nacional da Visibilidade Trans, que é comemorado em 29 de janeiro. No entanto, o jornalista ressalta que a obra é atemporal e que a visibilidade às pessoas trans, pretas e gordas não se limita a um dia, que serão vistos todos os dias. “Quero sempre ressaltar que uma obra é atemporal, principalmente um livro como este, que traz luz para os corpos trans, pretos e gordos, que estão vivos, e assim querem ficar, todos os dias, não só quando o calendário aponta, isto é, vamos falar dessas comunidades. Vamos colocá-las na literatura, nas telas, nas telonas. O mundo é múltiplo!”, finaliza.

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Escrita por Otavio Pinheiro