Marco Pigossi desabafou sobre o processo doloroso de se aceitar como homossexual em entrevista ao O Globo publicada na última segunda-feira (11). O ator assumiu publicamente em novembro de 2021 o relacionamento com o diretor italiano Marco Calvani.
“Eu rezava, pedia a Deus para me consertar. A homofobia é tão enraizada que, por mais que a gente assuma, ainda vai lidar com o preconceito interno”, comenta o artista.
Pigossi fez parte do casting da Globo por 11 anos e atualmente trabalha em produções a nível internacional para o streaming. O ator esteve a frente da série “Tidelands” e “Cidade Invisível”, da Netflix, e recentemente foi escalado para um papel importante na série derivada de “The Boys”, do Prime Video.
“Vesti a máscara heterossexual, sempre fui observado pela beleza. Fiz esse personagem hétero para me esconder, o que deixou minha vida mais confortável. E sou branco, privilegiado, classe média, filho de médicos. Imagina quem está na favela, é negro”, declarou Pigossi.
A descoberta aconteceu ainda na adolescência e o alívio consigo mesmo começou por meio do contato com o teatro. “Conheci corpos gays ali. Era um alívio deixar de ser eu. O que era uma fuga, mas carregada de carga cultural, do despertar como pessoa.”, afirmou.
Marco comentou ainda sobre o relacionamento com o pai, que é eleitor do presidente Jair Bolsonaro (PL). Segundo o ator, o ideal político dificulta esse contato. “Com meu pai é sempre tenso, não há naturalidade. É distante do universo dele, que é eleitor do Bolsonaro. Não que ele ache que ser gay é falta de porrada, mas se vota num candidato desse… Existe um ideal político que distancia a gente. Ele nunca vai me pegar pelo braço e se unir nessa causa. Diferentemente do amor incondicional da minha mãe”, conta.
O ator afirma que o relacionamento com Calvani o ajudou no processo de transformar sua saída do armário numa questão política para abrir caminhos para jovens. “Ele ficou existindo no meu ambiente de trabalho com uma naturalidade que me fez tão bem… A vida inteira meu trabalho e minha vida pessoal eram separados, tinha medo de que descobrissem… Pela primeira vez, esses mundos existiram juntos, e foi emocionante.”, desabafou.
“A pessoa que se aceita e está feliz com o que é conhece uma força enorme. Se sente com poder para ocupar espaços. E o encontro com a comunidade é uma corrente bonita, a gente se sente fortalecido, cria um senso comunitário. Porque, no fundo, o que a gente mais quer é pertencer. Como homossexual, sentia que não pertencia a nenhum grupo. Todos esses corpos passam por isso. E quando passam a pertencer… É do caralho!”, avaliou.