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“Meu Tio José”, de Ducca Rios, compete na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo 

Após uma estreia de sucesso no Festival Internacional de Cinema e Animação de Annecy, na França, o longa-metragem “Meu Tio José” será apresentado pela primeira vez no Brasil, na 45ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, um dos principais e mais antigos festivais de cinema do Brasil. Nos dias 23 e 24 de outubro, acontecem as sessões presenciais do filme com votação popular.

Dirigido por Ducca Rios, o filme aborda fatos reais e conta o assassinato de José Sebastião Rios de Moura, membro do grupo de esquerda “Dissidência da Guanabara”, que se responsabilizou pelo sequestro do embaixador americano Charles Burke Elbrick, em 1969, durante a ditadura. 

Com produção executiva de Maria Luiza Barros e distribuição no Brasil da Tucuman/Fênix, o  longa já havia sido finalista em Annecy e no Vancouver Independent Film Festival. “É uma obra política e histórica voltada para o público jovem. Um belo exemplo da criatividade que corajosamente permanece na animação brasileira nestes tempos difíceis”, conta Marcel Jean, diretor artístico do Festival Internacional da Animação de Annecy.

O longa também está competindo no Anima Córdoba, Argentina, e foi selecionado para o Festival Internacional de Cinema de Autor, na cidade de Rabat, no Marrocos, além do Festival Spark Animation, novamente na cidade de Vancouver, no Canadá, que é um dos poucos festivais credenciados a indicar filmes para o short list do Oscar. “Meu Tio José mescla de forma brilhante drama familiar, drama escolar e drama político para contar uma poderosa história de forma interessante, acessível e pungente”, conta a diretora do festival Spark Animation, Marina Antunes

O projeto se inspira na história de vida do diretor para narrar, a partir do olhar de uma criança, Adonias, a trajetória do seu tio José, que participou junto a outros ativistas de esquerda do sequestro do embaixador americano Charles Burke Elbrick, em 1969. “É uma obra importante, cíclica. Começa num golpe e vai ser lançada durante um outro golpe. Ela toca as pessoas porque faz essa revisita, lembrando esse evento trágico da minha infância, que remete a tantas lembranças. Foi meu tio quem me ensinou a nadar, ele brincava muito comigo e com meu irmão”, conta o diretor. Aliando essas boas memórias afetivas ao trabalho com cinema, Ducca decidiu homenageá-lo com seu primeiro longa-metragem, chamando atenção para um crime até hoje sem resposta. “Tem muita coisa ficcional, usando a simbologia da época, como o próprio ato de ilustrar, de fazer um filme todo desenhado a mão, mas boa parte é baseada em fatos reais“, revela.    

Historicamente, José permaneceu exilado durante dez anos, antes de retornar ao Brasil, onde foi morto em um crime com evidências fortes de motivação político-ideológica e que permanece sem solução. Na trama, o conflito principal se dá a partir de uma redação que Adonias tem que escrever na escola, mesmo dia em que seu tio sofre o atentado, em 1983, sendo depois levado ao hospital em estado grave.

Daí em diante, Adonias tem que lidar com a tristeza de sua família, com as desavenças na escola e com a angústia de ter que cumprir a tarefa pedida pela professora.  “Um dos atributos da animação é a possibilidade de revelar um drama com leveza. Meu Tio José se apropriou bem dessa particularidade e nos deixa atentos para o desfecho, cativados pela delicadeza da narrativa”, conta Aída Queiroz, Diretora do Festival Anima Mundi e apoiadora do projeto. 

O elenco conta com grandes nomes do cinema como Wagner Moura, Tonico Pereira e Lorena Comparato, entre outros talentos. Moura, dá voz a José e se mostrou bastante receptivo com o convite. “Apoio, assino embaixo. Fico contente, ainda mais na linguagem que Ducca escolheu, a animação, pouco comum no cinema brasileiro, sobretudo no baiano”. Já Comparato encarna a professora Adriana, enquanto Tonico vive o diretor da escola.

Na trilha sonora, cinco canções de Chico Buarque se apresentam desconstruídas e com uma roupagem rock’n roll em versões totalmente instrumentais, a não ser “Apesar de Você”, que ganha interpretação de Lirinha, vocalista do Cordel do Fogo Encantado, são elas: Roda Viva, Construção, Deus lhe pague, O que será e Apesar de você.    

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Escrita por Otavio Pinheiro