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No topo das paradas, drag queens brasileiras agregam diversidade à música nacional

Das boates LGBTQI+ para os palcos de todo o país, drag queens brasileiras vêm apresentando, dia após dia, resultados significativos de uma luta constante por representatividade e respeito. Se antes eram alvos de estereótipos e preconceito, hoje elas dominam as paradas de sucesso e arrastam multidões por onde passam. Com nomes como Pabllo Vittar, Gloria Groove e Lia Clark, essa comunidade está rompendo as barreiras da heteronormatividade e agregando maior diversidade à cultura nacional. 

Ao contrário do que muitos imaginam, drag queen não está ligado diretamente com identidade de gênero ou orientação sexual. De acordo com Lorelay Fox, referência em comportamento e maquiagem no cenário LGBT, drag é uma construção de um personagem, uma “roupa de trabalho”. Apesar da grande (mas não suficiente) visibilidade que vem conquistando no Brasil, este grupo carrega anos de movimento contra a discriminação no país que mais mata gays, lésbicas, transsexuais, bissexuais e travestis no mundo.

Nesta circunstância, ser visto e reconhecido publicamente é uma forma de protestar e pressionar medidas que garantam direitos e políticas de igualdade a grupos sociais historicamente prejudicados. Sendo assim, se deparar com minorias ocupando posições importantes em plataformas de streaming, como Spotify e Youtube, programas de televisão, premiações musicais e veículos de comunicação tradicionais é um grande indicativo de que as coisas estão caminhando para um contexto mais inclusivo.

Mas afinal de contas, quando as drag queens passaram a atingir a “grande massa”? É fato que, desde o primeiro álbum de estúdio lançado por Pabllo Vittar, em 2017, músicas como “Todo Dia”, hit do carnaval daquele ano, passaram a alcançar gosto popular. No entanto, a cultura drag nacional não se limita apenas a este nome. A explosão Vittar incentivou o público a consumir a arte de outras performistas que já investiam pesado na carreira musical. 

PARA ALÉM DE PABLLO VITTAR

Proprietária de “K.O.”, música solo de uma drag queen que mais recebeu streams na história do Spotify mundial,  Pabllo Vittar se consagra, atualmente, como uma das artistas mais importantes da comunidade LGBTQI+. A primeira performer brasileira a conquistar números expressivos de vendas coleciona hits como “Problema Seu”, “K.O.” e“Corpo Sensual”, além de parcerias importantes com Anitta, Iggy Azalea, Ivete Sangalo, Diplo e Charli XCX

Seu talento indiscutível rompeu barreiras e levou a estrela aos palcos das premiações mais importantes da indústria mundial, como é o caso da Europe Music Awards, de 2019, onde foi destaque ao ser a primeira brasileira a se apresentar no tapete vermelho. Além disso, a cantora levou o prêmio de “Melhor Artista Brasileiro”, tornando-se a primeira drag queen a vencer um EMA.

Em março deste ano, Pabllo presenteou seus fãs com o disco trilíngue “111”. Cantando músicas em português, inglês e espanhol, o fenômeno movimentou a indústria nacional com os hits “Amor de Que” e “Parabéns”, parceria com o grupo Psirico. “Esse álbum é diferente de tudo o que já lancei até aqui. Meu objetivo como artista é justamente esse, estar o tempo todo me reinventando, experimentando e ressignificando experiências, sonhos e batidas através das canções”, contou.

GLORIA GROOVE

Dona de um dos bordões mais marcantes da música brasileira, Gloria Groove chama atenção pelo seu talento e ousadia. Ao comandar o bloco Gloriosa – que já aconteceu dois anos seguidos, no centro de São Paulo – ela se destaca como uma das drags que mais domina as paradas de sucesso. Se você ainda não caiu na folia ao som de “Coisa Boa” ou “Bumbum de Ouro”, está fazendo isso errado. 

No Youtube, Gloria contabiliza mais de 1 milhão de inscritos em seu canal oficial e três vídeos com 40 milhões de visualizações, além de “Bumbum de Ouro” com a incrível marca de 104 milhões. A artista também esteve presente no TOP 50 do Spotify Brasil, em 2019, com o hit “Coisa Boa”.

Provando — mais uma vez — todo seu potencial artístico, Groove lançou, em novembro do ano passado, seu primeiro EP visual “Alegoria”. O projeto contém quatro videoclipes e explora elementos que transpassam o real para o lúdico em “Mil Gral”, “Magenta Ca$h”, “A Caminhada” e “Sedanapo”, faixa de maior sucesso nas plataformas de streaming.

ARETUZA LOVI

Aretuza Lovi estreou nos palcos brasileiros em 2012 com a canção “Striptease” e, no mesmo ano, apresentou um programa de televisão local intitulado Play Diversão & Saúde. Apesar de já ter trabalhado em grandes veículos de comunicação, sua carreira como cantora começou a decolar apenas em 2016, após lançar seu grande sucesso “Catuaba”, parceria com Gloria Groove que já conta com quase 13 milhões de visualizações.

A performer brasileira também colaborou com a cantora Iza na música “Movimento”, com Solange Almeida em “Arrependida” e Pabllo Vittar em “Joga Bunda”, uma das canções mais promissoras de 2018. As três faixas fazem parte do álbum “Mercadinho”, lançado pela Sony Music há dois anos. Mas ela não parou por aí, seu mais recente trabalho é o envolvente brega funk “Dodói”, lançado na última sexta-feira (19), em parceria com Thiaguinho MT.

Escrevemos essa faixa há algum tempo e decidimos lançar agora, um respiro em um momento tão difícil. Nela falo de sintomas da paixão, que estão sofrendo por amor, saudade, e que o amor é uma ferramenta de cura importante”, contou a cantora sobre o novo trabalho.

LIA CLARK

Com um repertório cheio de sensualidade e ritmo dançante, Lia Clark chama atenção ao afrontar a moral e os bons costumes. Toda essa personalidade fica evidente em “Chifrudo”, parceria lançada com Pepita no início de 2017, e “Boquetaxi”, do mesmo ano. Somando os dois sucessos, a drag conquistou cerca de 15 milhões de visualizações em menos de três anos.

Recentemente, Lia apresentou o videoclipe da faixa “Nude”, música presente em seu primeiro álbum de estúdio “É Da Pista”, lançado em novembro de 2018. Mesmo com pouco tempo de estrada, a artista já se uniu a Wanessa Camargo, Gloria Groove, Pabllo Vittar e PANKADON em colaborações bombásticas.

KAYA CONKY

Representante do movimento funk, Kaya Conky ganhou visibilidade após o viral “E aí Bebê”, single de estreia publicado em 2016. Atualmente, o clipe da faixa conta com mais de 9 milhões de visualizações e rendeu projetos com nomes fortes da comunidade LGBTQI+ como Pepita, em “Marmita” , e Danny Bond, em “Eu gosto é de dar”.

Em uma mescla de funk e pop, Kaya lançou “Sequência do Bota”, em outubro, e protagonizou o clipe do single com participações mais que especiais: Rebeca Trans, Bond e Samira Close. A música mostra uma nova faceta da cantora e vem com muita coreografia para ferver as pistas e não deixar ninguém parado!

POTYGUARA BARDO

Famosa por suas roupas e estilo que lembram seres mágicos, como elfos, Potyguara Bardo está em atividade desde 2017, mas foi em 2018, quando lançou o álbum “Simulacre”, que conquistou o público de vez. Entre as músicas mais conhecidas da artista estão “Oásis”, com mais de 4 milhões de visualizações, e “Você Não Existe”, com 800 mil. 

No o dia 9 de junho, Potyguara disponibilizou uma versão inédita de “Você Não Existe”. Intitulada como “You Don’t Exist”. A faixa é cantada em inglês e traz um vídeo artístico produzido especialmente para o drag show Haus of Heart, transmitido pelo Switch.

KIKA BOOM

Se você é um folião assumido, provavelmente dançou ao som de “Loka de Pinga” no carnaval deste ano. A música que dominou as paradas de sucesso é uma parceria da cantora e compositora Kika Boom com Danny Bond e usa as mesmas batidas de “Bad Reputation”, da americana Taylor Swift. Até o momento, a faixa contabiliza mais de um milhão de visualizações no Youtube.

Kika Boom possui cerca de 40 mil inscritos em seu canal oficial e já fez a alegria de muita gente por aí através de colaboração com Pabllo Vittar, Lia Clark e Wanessa Camargo.

SAMIRA CLOSE 

Conhecida no mundo gamer por seus vídeos divertidos, Samira Close divide sua vida de influenciadora digital com a correria do mundo artístico. Em outubro de 2019, a streamer lançou seu primeiro single “Madrugada” que já conta com mais de um milhão de visualizações no Youtube. Em menos de um ano, a cantora chegou à marca de 650 mil inscritos na plataforma digital.

“Eu realmente não sei se irei compor mais músicas ou investir na carreira musical, mas devo dizer que estou muito feliz com o resultado de um trabalho tão simples que tem um significado gigantesco pra mim”, revelou Samira.

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Escrita por Renan Coelho

Jornalista, redator e apaixonado por cultura pop.