Dia 29 de maio de 2018 marcou a data de aniversário de 21 anos da morte de Jeffrey Scott Buckley. Dia 05 de abril deste mesmo ano marcou o aniversário de 24 anos da morte de Kurt Donald Cobain. Semelhanças? Além de notáveis por motivos bastante audíveis e suas devidas marcações e lugares nos pilares da música, algo em comum os deixou em certo destaque tanto na mídia, nas vendas e no pensamento de quem os adorava. A ausência. Os dois estavam no topo e a partir de tal ponto continuam, mas de outra forma. Eles não estão mais aqui, mas ainda, mais de vinte anos depois, continuam acompanhando os ouvidos de muita gente.
Dave Lory, então empresário de Jeff Buckley, deu uma entrevista ao podcast de música noventista da Alternative Nation, o Desperate Nation, e fez um relato interessante conectando a morte do vocalista do Nirvana e de Buckley pela perda de um artista do peso que têm e a divulgação dele, no caso Jeff, e de suas artes. “É tipo uma operação militar — no começo, você não sabe o que vai fazer. Graças a Deus não tinha internet naquela época, então pude passar a mensagem como eu queria”. A relação já não tão distante e absurda entre os dois, ganhou contornos mais significativos quando Lory comenta sobre a interação dos então empresários da banda de Seattle com ele sobre a morte de Jeff. “Danny Goldberg e a Janet Billing cuidavam do Nirvana, e quando o Kurt se matou, eles me ligaram logo em seguida. Isso significou muito, porque não há um livro (sobre) a publicidade de (quando) um rockstar morre. Eles também disseram, ‘você é parte de um clube do qual não quer pertencer”.
Jeff Buckley em 1993, um ano antes da morte de Kurt Cobain, já tinha um álbum gravado: o espontaneamente genial “Live at Sin-é”. Naquele ano, a era do grunge já estava mais do que instalada depois do lançamento de dois álbuns do Nirvana, “Nevermind” e “In Utero” e a indústria musical estava lidando com novos ares. “(O grunge) Foi mais inspirador que (qualquer) outra coisa. […] Quando penso no ano de 1992 tudo que ouço em minha cabeça é o álbum ‘Dirt’ (do Alice In Chains). Adorava o Nirvana, os primeiros discos do Soungarden – aquilo tudo era muito inspirador”, disse Lars Ulrich, baterista do Metallica, em entrevista ao canal 92Y On Demand. O quinto álbum da banda, o “Black Album”, lançado em 1991 é tido como mais comercial que os anteriores e recebeu críticas por isso. Tudo de alguma forma recebeu a influência daquilo que vinha do noroeste norte-americano, a novidade.
Dave Lory lembra que ‘quando Grace (o único álbum de estúdio de Jeff) foi lançado, em 1994, era o auge do grunge. Tivemos até uma reação de uma rádio de faculdade que não sabia o que fazer com um EP do Jeff’. Certa insistência foi necessária, segundo ele, para emplacá-lo diante do que estava em alta nas rádios da época. “Você é original. Demora um pouco mais para se elevar acima do barulho, mas uma vez que você faz, há apenas um Jeff Buckley”, lembra Dave de ter dito ao músico.
Mencionando seu livro lançado na última terça (29), aniversário de morte de Buckley, o então empresário diz que uma das produtoras do álbum, Leah Reed, lembra quando a gravadora Columbia o contratou: “Não havia ninguém para compará-lo”. Já era. Era único. A magia já havia sido feita, era um aleluia.
Kurt era intempestivo, bem humorado quando convinha e elétrico, indomável onde devia ser, nos palcos. Jeff também tímido e bem-humorado, não soava tão raivoso e esganiçado quanto, mas tinha uma semelhança com o rapaz de Aberdeen: deixava claro que algo era incapaz de ser domada, sua voz. Suas perdas foram e são sentidas, influenciam, marcam e fazem. Fazem chorar, rir, emocionar, gritar, explodir, extravasar, pensar, amar, odiar. Fazem sentar para prestar atenção e ficar em pé para se sacudir. Fazem ser. Um lítio, outro graça.
Interrompidas pelo acaso que a vida nos faz conviver e vivenciar, suas vozes tomaram outros canais de reprodução. Ecoam e assim continuarão…
Para mais informações sobre o livro “From Hallelujah to the Last Goodbye”, que está servindo de roteiro para um possível filme sobre Jeff Buckley, clique aqui.