Uma leitura fantástica pros amantes da 6ª Arte
Livros de Fantasia seguem alguns protocolos: é necessário uma jornada por terras desconhecidas, magia, criaturas místicas, vilões convincentes e claro, um herói ou heroína que aceite algum desafio quase impossível em nome de algum Bem Maior (e se no meio disso tudo, surgir algum romance, é mais um bônus!). Bom, Filha da Floresta não é diferente: todos os clichês estão lá, tudo que se espera pode ser encontrado, a questão é que Juliet Marilier transforma esses pré-requisitos numa narrativa magnânima – sim, “magnânima” e prepare-se pra mais adjetivos assim ao longo do texto, e talvez eles sejam suficientes pra descrever esse livro.
As “terras desconhecidas” são Sevenwaters, um misto de Floresta Encantada e feudo medieval, o centro da história e lar da protagonista e de criaturas mágicas. A Magia fica por conta dos Seres da Floresta, deuses pagãos quase esquecidos num local que se cristianiza a cada dia. A vilã é uma “má-drasta” que surge pra dar o pontapé inicial da jornada para nossa protagonista. E nossa heroína aqui é Sorcha, uma irmã que passará pelos piores momentos imagináveis para salvar a vida de seus 6 irmãos. (O romance aparece também, mas em nenhum momento é o foco da narrativa)
Mas, se tudo é clichê, qual a graça desse livro? Bom, a Juliet Marilier e um talento inegável para encantar pessoas com palavras. Sevenwaters é descrita o tempo todo com uma lírica quase poética, incluindo aqui ritmo e sonoridade à narrativa/descrição. Os Seres da Floresta são complexos e cativantes – baseados nas lendas irlandesas originais – e nunca caem na obviedade de seres poderosos que controlam meros mortais. Eles precisam dos homens e mulheres daquela terra e isso torna suas relações mais inconstantes. A vilã surge portanto uma inteligência fria quase cativante, e não tem o fim comum destinado a elas.
E Sorcha. Deuses antigos, novos, da terra e das Ilhas. Que protagonista é essa?! Forte – de verdade! – sem cair em esteriótipos de “girl power” nem de “menina indefesa” ela transita em momentos de dor e alegria sem perder o objetivo, provando que fortaleza é muito mais do que saber dar socos e pontapés. Uma protagonista que carrega a história, não é carregada por ela. Alguém que toma as decisões e assume as responsabilidades por elas, mesmo quando isso quase a destrói.
Se existe aquele ditado que diz que “se protagonista fosse bem não tinha amigos”, Marilier destrói isso ao construir uma das personagens femininas mais complexas e completas que já foi criada em muitos e muitos anos. (Ou ao menos, dentro do espectro literário dessa resenhista que vos escreve).
E os coadjuvantes? Um mais apaixonante que o outro. Cada qual com uma função real e necessária na narrativa, que por si só, já não é “nova” pois foi baseada na lenda dos Sete Cisnes mas que é escrita tão lindamente que consegue fazer com que amantes dos livros e das palavras terminem a última página com um suspiro que nada tem a ver com o destino dos personagens, mas com o fato de que há muito não se sentia realmente encantado com a forma com que uma história é contada.
Titulo: Filha da Floresta
Autora: Juliet Marillier
Editora: Butterfly Editora
Série – Volume: Trilogia Sevenwaters – 01
Número de páginas: 616
ISBN: 9788588477971
Ano: 2012
Escrito por: Ludmilla Fadel (@ludmilla_fadel)