O próprio filme em suas cenas iniciais já se declara “uma fábula sobre uma tragédia verdadeira”, dando uma pista do que estaria por vir. “Spencer”, que ousadamente trouxe como protagonista uma das atrizes mais criticadas atualmente por sua dinâmica em tela, teria como desafio provar que sua equipe de casting não confundiu o numero de contato quando ligou para Kristen Stewart para lhe oferecer o papel principal, como também revelar sua originalidade em meio a tantas produções sobre a mesmíssima história.
O longa é na verdade uma sugestão de como a Princesa Diana – Spencer – teria passado os dias que antecederam sua decisão de, após muitas traições e desentendimentos, se divorciar do Príncipe Charles e se libertar da sufocante pressão do estilo de vida Real. Como supõe, essa decisão teria lhe ocorrido principalmente durante os três dias de comemoração de natal que aconteceu no palácio da família.
Desde quando Stewart foi anunciada como cotada para interpretar a famosa Lady Di criou-se um alvoroço. Um público desconfiado que não conseguia deixar de questionar o porquê. A menina de “Crepúsculo”? É sério? Pensando bem, depois de tudo até pareceu uma jogada de mestre. Havia uma crença tão forte de que a inesquecível Bella Swan seria incapaz de se dar bem no papel que a resposta disso foi uma enorme comoção quando descobriram que ela deu sim conta do recado e com muito carisma e sutileza. Algo jamais visto antes em toda sua carreira. O que fez todo mundo correr para ver com os próprios olhos.
Kristen está visível na tela 95% do tempo, o que exigiu dela um esforço dobrado. Embora a bela fotografia de Claire Mathon, de cores frias e ambientes cobertos de névoa, colabore muito para a construção de um sentimento de vazio e tristeza que a história exige, a verdadeira melancolia começa e transborda na performance da atriz que, com trejeitos bem fiéis à verdadeira princesa, conseguiu externalizar o sofrimento de uma mulher que luta para não desabar.
Ao que se diz da história, há duas coisas que precisam ser consideradas: primeiro, “Spencer” não é uma novela sobre a Família Real Britânica. Não se baseia em grandes reviravoltas nem em momentos de grande êxtase. Se você está esperando algo como “The Crown”, esqueça! Segundo, para uma melhor experiência, até para outras obras parecidas, é importante que haja uma desconstrução da cultura de que narrativa lenta é sinônima de defeito. É hora de desmistificar as sequências longas e silenciosas. Neste caso, existe um trajeto que busca verificar com bastante paciência, o que pode deixar muita gente impaciente, a degradação da personagem. Dessa forma, agradando ou não, se o objetivo do diretor Pablo Larraín seria realçar um tom intimista, ele conseguiu.
Mas já deixe anotado: a forma como a obra foi construída não faz questão nenhuma de apresentar seus personagens, muito menos contar suas historias ou se aprofundar nas questões relativas aos costumes da Família Real. Na verdade, o roteiro montado por Steven Knight espera do espectador um conhecimento prévio, porém nada que um documentário curto do Youtube não resolva.
Embora “Spencer” se inspire em momentos para lá de amargos, possui um belíssimo significado. Uma saudosa ilustração da tão sofrida e também amada Princesa Diana. Um gesto que vai além de competência cinematográfica. Mesmo com duras demonstrações da possível verdade, o filme exala doçura e, mais importante, respeito para com a memória de alguém. Mesmo perturbada e frágil, Diana é retratada como uma mulher resiliente e graciosa, além de uma mãe amorosa que lutou por seus filhos. Toda a sua explanação carrega uma áurea de um desejo nítido de demonstrar amor por alguém que precisava recebe-lo.
Assista o trailer: