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“Nosferatu”, de Robert Eggers, é o terror gótico que precisávamos | Crítica

Tendo tido sua estreia em janeiro de 2025 nos cinemas do Brasil, “Nosferatu” é a nova obra de Eggers a entregar um incrível deleite visual para amantes de horror

Lily-Rose Depp interpreta Ellen Hutter em "Nosferatu". Foto: Divulgação

Robert Eggers consagrou-se como um grande nome do cinema de horror desde seu longa de estreia “A Bruxa” em 2015, desde lá Eggers vem lançando novos sucessos como o mais recente “Nosferatu” de 2024. Para essa nova obra de terror, o diretor americano se inspirou no famoso filme mudo do alemão F. W. Murnau, feito em 1922, de mesmo nome. Quando Murnau lançou sua versão do livro “Drácula” de Bram Stoker, houveram muitas controvérsias por parte da família do autor que não havia concedido os direitos autorais e queriam que as cópias do filme fossem retiradas de circulação. Mas, esta obra se espalhou pelo mundo, felizmente, pois agora o público pode assistir essa grande revisitação atual.

Nosferatu” na versão remake é o terror gótico que precisávamos. Desde seu início a audiência é levada a uma viagem profunda dentro de uma história repleta de horrores e medos. Nada de vampiros atraentes e “bonzinhos” como em “Crepúsculo”, aqui Eggers propõe que a figura desta criatura da noite volte a ser temida.

Ellen Hutter, interpretada por Lily-Rose Depp é a esposa de Thomas Hutter, interpretado pelo ótimo Nicholas Hoult, todos os atores dessa história estão perfeitos para o seu papel, cada um conseguiu expressar aquilo que seus personagens precisavam. Ellen é a nossa espécie de “heroína” da história, desde o começo do filme Ellen é atormentada por visões macabras sobre um ser que a jovem não sabe definir muito bem o que é. Causa muita empatia na audiência o desespero da personagem. Ellen é de suma importância para a história, ainda mais nos momentos finais.

Em um dado momento, vamos descobrir a conexão da mocinha com Orlok, o Nosferatu (Bill Skarsgård). O ator Bill Skarsgård está irreconhecível no papel, causando arrepios na audiência, é praticamente impossível identificar quem está por trás do monstro caso você não pesquise antes sobre o filme. Todos elogios possíveis para os figurinos e maquiagens do filme, que ajudam a contar essa história de uma forma única.

Thomas Hutter recebe então a missão dada pelo seu chefe de embarcar em uma viagem até o castelo de um curioso Conde. Após contar a sua esposa sobre ter aceitado esse trabalho, Ellen então demonstra-se muito preocupada com o que acontecerá com seu amado. Para ela, algo terrível está para acontecer, mas infelizmente ninguém dá muita importância para o que ela tem a dizer. Lily-Rose Depp é promissora em dar vida a essa personagem jovem que vive um grande caos em sua mente, ela é atordoada por um grande jogo psicológico com o mal.

Assista ao Trailer de “Nosferatu” (2024):

Ao chegar ao castelo, temos a cena clássica vista em todas as versões seja de Nosferatu ou de Drácula onde o personagem Thomas Hutter (Jonathan Harker no livro”Drácula”) fica de encontro com o conde sem ainda saber que ele é um vampiro. Nessa cena temos toda a tensão necessária criada pela atmosfera macabra que percorre todo o filme. Tudo no filme é muito escuro, com pouca cor, muitas cenas parecem ser iluminadas apenas por velas de forma que é entregue uma sensação perturbadora. A audiência sente-se tão presa na loucura apresentada quanto os personagens estão.

As cenas ficam trocando entre mostrar os perigos que Thomas está vivendo no castelo de Orlok e também retratar o que sua esposa Ellen Hutter está passando longe dele. A moça está sobre os cuidados de seus amigos Anna Harding (Emma Corrin) e Friendirch Harding (Aaron Taylor-Johnson).

Ellen começa a ficar muito doente, então passa a receber visitas de um médico, só que ninguém parece notar que na verdade aquilo que ela está sentindo se trata de uma conexão com o sobrenatural. Apenas quando o professor Von Franz, interpretado por Willem Dafoe, entra em cena é que a jovem começa a receber credibilidade de alguém, isso porque o professor acredita em mais do que apenas a ciência, ele crê nas coisas místicas.

Ellen Hutter é uma personagem que representa os desejos reprimidos das mulheres de sua época. O filme se passa na Alemanha de 1838, os medos e visões demonstrados pela moça são vistos como uma espécie de loucura ou paranóia, definida naquela época como “Histeria feminina” ou “Melancolia”.

O que na verdade Ellen demonstra é o quão difícil deveria ser para aquela época que mulheres sentissem desejos e vontades próprias, tudo que fugisse um pouco da norma era visto como algo obscuro, logo o filme pode ser interpretado como essa espécie de metáfora sobre temas de sexualidade feminina.

Quase no final, temos uma das melhores cenas onde em uma espécie de possessão demoníaca Ellen Hutter discute com seu marido Thomas Hutter numa briga acalorada e muito bem interpretada por ambos os atores. Neste momento Ellen parece estar sob a influência de Nosferatu, uma cena forte e muito impactante que faz relembrar de clássicos como “O exorcista (1973)” e “Evil Dead (1981)“.

A dinâmica donzela em perigo X figura monstruosa é famosa em tropos narrativos do cinema. Outra história que parece ter inspirado o filme de Eggers é a do musical “O fantasma da ópera“. Principalmente quando se trata da questão dessa conexão malígina entre Orlok e Ellen por meio de sonhos e pelo foco no tema do desejo pelo oculto.

Nosferatu” de Robert Eggers é um clássico conto gótico, que bebe de sua versão original de 1922, assim como do livro “Drácula” e de toda literatura e imaginário gótico. Com um vampiro amedrontador e perigoso, mas que ao mesmo tempo também é solitário e deseja um par. Ellen vê em Nosferatu a repressão de seus desejos sexuais mais primitivos, que para uma mulher de seu tempo não era concedido a ela o direito de sentir. Ao mesmo tempo que há repulsa, há encantamento. É uma dinâmica dúbia, que pode não agradar a quem não estiver tão familiarizado a mistura de repulsão e encanto do terror gótico.

A fotografia do filme é linda, como se você estivesse abrindo um livro e lhe fosse contada uma história sobre uma tragédia de tempos antigos. Para quem mergulhar nessa obra, receberá uma aventura aterradora. Os amantes de vampirismo e histórias góticas encontrarão em “Nosferatu” um fantástico deleite visual. 

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Escrita por Vitória Thomaz