Conhecidos por mesclar gêneros como pop e rock com elementos de música erudita, a Família Lima agora aposta em um projeto com repertório bem ousado para os padrões do grupo. Em “Música de Domingo”, cujo segundo volume foi lançado este mês, eles fazem releituras clássicas de hits de Djavan, Charlie Brown Jr. e Marcos & Belutti.
Liderado por Lucas, Moisés, Allen e Amon, a Família Lima completou 25 anos de atividade no ano passado. Entre os principais momentos da carreira, estão shows na Europa e nos Estados Unidos, apresentação no Rock in Rio e uma performance no Vaticano em frente ao Papa João Paulo II. Na ocasião, o grupo foi o único representante latino-americano do Jubileu da Família, celebrado em 2000.
Dezesseis anos depois da gloriosa apresentação, mais uma virada na carreira: a Família Lima se torna a banda oficial do “Tamanho Família”, programa exibido nas tardes de domingo da Rede Globo sob o comando de Márcio Garcia. Do vasto repertório da atração, nasce o “Música de Domingo”.
O segundo EP do projeto foi finalizado em meio à pandemia do coronavírus, o que fez com que tanto as músicas quanto os clipes fossem concluídos remotamente. Em meio a um cover de Djavan e uma releitura do tema de Rocky Balboa, o grande destaque é a participação da cantora Agnes Nunes na regravação de “Só os Loucos Sabem”, escolhida como o carro chefe do compacto.
Na última semana, o Poltrona Vip conversou com Amon Lima, que divide com Lucas a execução dos violinos. Por telefone, ele contou detalhes dos bastidores das gravações do “Música de Domingo II” – da seleção do repertório às filmagens – e refletiu sobre como o “Tamanho Família” foi um divisor de águas na trajetória da Família Lima.
Poltrona Vip: O projeto “Música de Domingo” nasce das canções executadas no “Tamanho Família”. Como é esse processo de seleção de repertório para o programa?
Amon Lima: O primeiro “Música de Domingo” foi exclusivamente de músicas que nós tocamos no “Tamanho Família”, que é um programa que passa todo domingo, daí o nome, né. Quando a gente começou a fazer o programa, foi quase um choque porque a gente tinha que tocar um repertório muito diferente do que nós estávamos acostumados. Apesar de a Família Lima sempre fazer um repertório variado, ali variou ainda mais. A gente aproveitou aquela experiência porque realmente a gente teve contato com muita coisa, foram mais de 700 músicas desde que começamos o programa. Algumas começaram a chamar a atenção da gente, ou por serem inusitadas, ou por serem interessantes, a gente foi trazendo pro nosso repertório e resolvemos lançar o primeiro disco. E agora, lançamos o volume 2. Nesse, a gente já tá abrindo pra músicas que chegaram pra gente de outras formas, como é o caso de “Só Os Loucos Sabem”, que na verdade foi uma música que o Lucas produziu pra uma premiação de e-sports e ele fez um arranjo pra Agnes Nunes nessa época. A gente resolveu aumentar esse arranjo, deixar ele mais grandioso, mais épico e o Lucas colocou voz também. A ideia é justamente essa: músicas que não estariam no nosso repertório normalmente, historicamente nos nossos 25 anos, e agora a gente aproveita essas situações inusitadas que nos trazem contato com outro repertório. Então, é um projeto bem aberto. Esse é o volume 2 e possivelmente vai ter volume 3, 4… De acordo com o que a gente sentir que tem a ver com essa ideia.
PVIP: Vocês já estão há 5 temporadas no comando musical do “Tamanho Família”. Vocês notaram alguma renovação no público que acompanha vocês nos shows graças a essa visibilidade?
AL: Ah, a gente nota, sim! O que a gente sentiu foi que algumas pessoas que, às vezes, teriam algum preconceito por a gente tá tocando violino, violoncelo, instrumentos que por uma questão cultural às vezes são vistos como uma coisa careta, o que eu nunca achei que fosse, mas às vezes são vistas dessa forma, a gente sentiu que as pessoas por estarem vendo a gente ali num programa de domingo, animado, tocando aquilo de um jeito divertido e descontraído, sabe? As pessoas perderam um pouco dessa visão equivocada que teriam por conta de um ou outro preconceito. A gente sente que isso ajudou a quebrar, sim. E a visibilidade de um programa da Rede Globo com uma super audiência, porque o “Tamanho Família” é um sucesso desde o começo, isso com certeza ajudou, deu uma impulsionada na carreira. E foi uma impulsão até pra nós, na maneira de nos organizar como banda porque é muita coisa que a gente tem que aprender em pouco tempo. Então, a gente teve que aprender a se organizar em questão de ensaio, de quem faz o quê, de dividir tarefas, foi muito bom pra gente. A gente tem muita gratidão à Rede Globo e à toda produção do “Tamanho Família” por tudo que melhorou tanto em questão de carreira, de visibilidade, quanto profissionalmente mesmo.
PVIP: O mercado mainstream é algo que vocês visam atualmente?
AL: A gente vive sempre nessa linha de estar no mainstream e não estar ao mesmo tempo. A gente faz grandes shows e ao mesmo tempo, a gente trabalha no mercado de eventos, então, estamos sempre trabalhando nos dois lugares. A gente vislumbra, é ótimo trabalhar nesse segmento, mas acho que a gente tem que ter alguma coisa que alimente nosso dia a dia, porque é o que a gente sempre fez e o que a gente sabe fazer bem.
PVIP: O “Música de Domingo II” foi gravado remotamente, um modelo de execução que deve ser inédita na carreira de vocês. Como foi esse processo?
AL: Eventualmente, a gente faz isso, né. Há muito tempo, o mercado inteiro grava assim. Todo mundo grava no computador hoje. Tu tem um homestudio ou um quarto com uma acústica razoavelmente decente, tu pode gravar em casa, se tiver um equipamento bacana. E hoje em dia, tem equipamentos bacanas portáteis. Só que um disco inteiro feito à distância, é a primeira vez que a gente grava. O bacana disso tá sendo fazer os vídeos também. O vídeo de “Só Os Loucos Sabem”, a gente gravou todo mundo com o celular, ou pediu pra alguém gravar, ou colocou o celular parado na estante e gravou. Mas o trabalho de edição que o Will Aleixo fez foi muito bonito. O vídeo ficou com uma cara muito legal. Eu fiquei muito feliz porque tá com uma cara profissional e não parece que foi gravado dessa forma. E a gravação remota foi essa, a gente brifou antes, conversou, cada um fez suas partes. A gente já tinha uma ou outra coisinha já gravada, porque a gente já tava começando a produzir esse EP, mas era muito pouco mesmo. Então, ele foi praticamente todo feito remotamente. Aí o Lucas juntou tudo lá no estúdio dele, mixou e tá aí. Foi a primeira vez que a gente fez dessa forma um disco inteiro.
PVIP: Você falou que pretendem lançar mais edições do “Música de Domingo”. Existem chances de uma turnê só com esse repertório, quando tudo isso passar?
AL: Na verdade, a gente já fez um show “Música de Domingo” no ano passado. Inclusive, foi um show todo instrumental, foi uma coisa meio maluca que a gente acabou fazendo. Aí a gente colocou outras músicas que nem são essas que estão gravadas, usamos outras coisas e ficou bem legal. E, sim, é uma ideia que não tá necessariamente no nosso projeto agora, mas é uma ideia que é muito possível acontecer à medida que a gente for lançando os outros volumes. A gente não tem assim um cronograma pros próximos, mas é uma coisa que tá muito aberta pra gente fazer, sabe? Mas agora realmente a gente tá bem focado nesse. Vão ter vídeos de todas as músicas, cada vídeo vai sair a cada 15 dias, então, tem lançamento aí pros próximos dois meses. É um projeto legal de fazer. Poder trabalhar com um repertório que tu não tá acostumado, por mais que a gente já seja uma banda de tocar com repertórios variados, fazer uma coisa mais variada ainda pra nós é muito legal. Tem desde a música do Rocky Balboa, “Gonna Fly Now”, passando por Djavan (“Azul”), a música do Bruno Caliman conhecida pelo Marcos & Belutti (“Domingo de Manhã”) e “Só os Loucos Sabem” com esse arranjo todo diferente que a gente fez. É muito legal poder fazer isso. A gente fala que é uma conquista mesmo poder tocar tanto repertório.
PVIP: E o mais legal é que isso acontece no período que vocês completam 25 anos de carreira e poderiam viver só do que já vem dando certo há muito tempo, mas vocês propõem essa renovação.
AL: Pô, obrigado! E é realmente isso, né. É que a gente gosta de música, a gente gosta de fazer música. É o nosso trabalho, é o nosso ganha pão. Tem hora que tu tem que cumprir o teu cronograma, o teu trabalho, mas nem por isso deixa de ser uma profissão que a gente ama e gosta de fazer. Então, a gente vai tá sempre fazendo isso. Todo mundo busca informação de maneiras diferentes, mas tá todo mundo sempre se informando, tentando crescer e melhorar como músico, como produtor ou desenvolver uma nova habilidade que sirva pra gente continuar fazendo nossa arte de uma maneira que seja desafiadora e encantadora pra gente também, não só pro público.
PVIP: E pra você, Amon, quais são as músicas ideais pra um domingo?
AL: Olha, vou te falar que “Só Os Loucos Sabem” é uma música ideal pra um domingo sim, ainda mais pra um domingo de quarentena, né. É difícil tu dizer uma música, eu acho que é a que te toca mesmo. Cada pessoa gosta de um estilo, de um gênero, ou de alguns gêneros. O domingo pode tanto ser uma coisa pra reflexão, quanto pra diversão. No programa “Tamanho Família” a gente tem justamente isso, né. Acho que é daí que vem a história do “Música de Domingo” mesmo. Tem essa combinação que parece que não tem nada a ver, mas na verdade tem tudo a ver.