Voz conhecida das trilhas sonoras de novelas, a cantora Deborah Blando lança nesta sexta-feira um novo single. A música “We Fly” marca a mudança da cantora para a Inglaterra e a imersão no Budismo.
“We Fly” é uma parceria da artista com o DJ Bruno Knauer, que assina a produção e a composição da faixa. A canção é o primeiro lançamento de Deborah desde a saída do Brasil, anunciada com um texto polêmico repleto de críticas ao cenário musical do país.
Apesar do lançamento, a cantora está em hiatus dos palcos e não há previsão de retorno. Ela se dedica exclusivamente a um curso de formação de professores de Budismo Kadampa, tradição fundada pelo mestre budista indiano Atisha.
O Poltrona Vip conversou com Deborah Blando direto de Ulverston, cidade inglesa localizada a pouco menos de 500 km de Londres. A cantora revelou detalhes sobre o single “We Fly”, a qual chamou de “presente para os fãs”, detalhou a experiência com o Budismo e reafirmou o desagrado com as músicas populares no Brasil.
Poltrona Vip: Você está lançando o novo single “We Fly”. Quais foram as principais inspirações para a canção? É uma autobiografia do seu novo momento?
Deborah Blando: É exatamente uma música que fala do meu momento, de um novo voo, de uma nova fase e que nunca é tarde pra você seguir um sonho que mora no seu coração. É um desejo da alma, é o meu caminho espiritual me aprofundar nos ensinamentos budistas. O meu guia espiritual, Geshe Kelsang Gyatso, que eu conheci em 1999, me mostrou que essa metodologia budista funciona. Nossa tradição se chama Kadampa e eu fui escolhida dentre muitas pessoas do mundo para entrar nesse curso de formação de professores. É um curso intensivo que acontece de dois em dois anos e que a gente estuda de manhã, de tarde e de noite e se torna professor. Essa música é como se fosse uma despedida por agora, pelo momento, um presente carinhoso de fim de ano aos meus fãs. E dividindo esse momento da minha vida que eu sei que muitas pessoas vão se identificar com a música. “I raise my flag”, eu levanto minha bandeira, “I’m done with the past”, deu pro passado, deu pras coisas que eu não quero mais. Seguir meu caminho, seguir meu sonho, e não ficar fazendo o que os outros querem. Deixar o passado é também deixar coisas falhas da nossa personalidade que não nos pertence, que a gente acaba pegando dos pais ou de traumas da vida. Deixa isso tudo no passado e segue com uma pele nova.
PVIP: “We Fly” dá início a uma nova era da sua carreira? Um álbum ou EP está em processo de produção?
DB: “We Fly” é o final e não o começo. Eu lancei o EP “Heart of Gold” em todas as plataformas e essa música é um presente pros fãs nesse final de ciclo. Ela fala de um começo de ciclo, mas terminando outro. E eu gosto de dividir com meus fãs cada ciclo. Então, é um presente pros fãs que vão se identificar com a letra. É uma música muito pra cima! Ela fala de um recomeço e de uma busca incessante de se tornar um ser humano melhor. Acho que uma música dessas não tem como não inspirar!
PVIP: Em seu texto de despedida, você expressou insatisfação com o momento atual da música brasileira, mas destacou que existem “artistas que sobreviveram e ainda estão no mercado”. Quem são os artistas brasileiros que você consome? Existe algum nome da nova geração que não pode faltar na sua playlist?
DB: Eu falei dos artistas que sobreviveram. Vanessa da Mata, Elba Ramalho… Tem artistas aí que estão no mercado, vivendo de música, mas são poucos, né? O que realmente faz sucesso, o que estoura de novo, é música sem letra, sem melodia, a mesma palavra repetida, o que eu não considero música. Isso é um produto musical. Vamos dar nomes aos bois. Um produto que é vendido, não música. Música pra mim tem que ter letra, melodia e harmonia, tanto que como compositor a gente precisa disso na hora de fazer o ISRC [código para identificar as gravações] de uma música. Então, tem sim a insatisfação, claro. Acho que eu não sou a única música e cantora que gosta de cantar, que gosta de ser afinada, que gosta de soltar a voz e compor coisas bonitas. Eu não sou a única que está insatisfeita com essa parte do mercado brasileiro.
PVIP: Após a mudança para a Europa, como está sua rotina de produção? A inspiração aumenta?
DB: Pra mim, sempre aumenta quando eu recebo energias positivas dos budas, ou seja, bençãos. A música “Heart of Gold” saiu disso, de uma inspiração, de uma gratidão ao meu guia espiritual Geshe Kelsang Gyatso. A espiritualidade, pra mim, tá ligada à música. Engraçado isso, né? Como eu me expresso hoje em dia de uma forma mais profunda, eu diria, que é contra a corrente. Eu gosto de piano, de cordas, de coisa orgânica, música que você pode tocar no violão e no piano e soar bem. Esse é o teste final de uma música boa.
PVIP: Você se mudou para a Inglaterra, mas deixou uma legião de admiradores no Brasil. Seus fãs podem esperar uma nova turnê no país?
DB: Não tem uma nova turnê planejada nesse momento. Meus fãs sabem inclusive que essa música é de ‘goodbye for now’, tchau por agora. Vai ter um tempo que eu vou me dedicar a esse curso que eu fui escolhida pra fazer no Manjushri Kadampa Meditation Centre. Não se sabe do futuro, eu não sei do futuro, e quem sabe do futuro na real? A gente não sabe nem se vai tá vivo amanhã. Mas meus planos são esses, esse novo voo que é esse conhecimento espiritual mais profundo e poder dar aula quando eu sair desse curso. Quem sabe depois de poder treinar dando aula, eu acabe dando aula no Brasil também. Mas a música nunca vai deixar minha vida porque eu e a música somos da mesma natureza. Desde que eu me conheço por gente, eu canto. Depois eu comecei a compor na adolescência. As músicas aparecem pra mim. Posso estar no banheiro tomando banho, começo a cantar uma melodia nova, ela vem e assim vai. Música sempre vai pertencer à minha vida e sempre que eu tiver oportunidade, eu vou dividir com meus fãs. Não é uma coisa ‘ah, eu parei hoje’. Eu parei por agora, mas não é pra sempre. Nada é pra sempre.