Pela primeira vez , “Once, o musical” chega ao Brasil e fará temporada no Teatro Villa Lobos até o dia 21 de maio. De 11 indicações ao Tony Awards – maior e mais prestigioso prêmio do teatro nos Estados Unidos – ele ganhou 8 troféus, incluindo o de melhor musical, no ano de 2012.
Ambientada em Dublin, a história passeia entre a vida de um músico de coração partido que compartilha suas composições com transeuntes em troca de moedas, e uma tcheca espirituosa e apaixonada por música que vê seus caminhos se cruzarem por um mero capricho do destino. E é a partir desse encontro que um sentimento nasce e vai se modificando rapidamente mudando a vida de ambos para sempre.
Bruna Guerin, que protagoniza o espetáculo e interpreta Ela, está em um de seus melhores papéis. A veterana já emprestou sua arte à diversos personagens, tanto na cena teatral e musical, quanto em novelas e séries de streaming. Assim que a atriz surge no palco e dá suas primeiras falas a plateia é imediatamente conquistada pelo positivismo enérgico da personagem e seu sotaque tcheco habilmente utilizado do começo ao fim. Além disso, brincadeiras inteligentemente utilizadas no texto relacionadas à dificuldade do idioma não nativo da moça e a essa divertida confusão linguística agradam e entretém os espectadores, que não fazem questão de segurar o riso em diversos momentos. O domínio do timing para a comédia da atriz é certeiro e bem dosado com os momentos mais dramáticos e igualmente bem executados. Vale ressaltar também a delicadeza do seu canto quando está sentada ao piano. É deslumbrante!
Em contrapartida, temos Lucas Lima, o músico e multi-instrumentista, cantor, arranjador, compositor e produtor musical, que divide o protagonismo do espetáculo e dá vida à Ele. Lucas traz um frescor revigorante ao espetáculo e se joga ao desconhecido com a certeza de que seus parceiros de cena estão prontos para segurá-lo nessa nova experiência profissional de sua carreira, caso seja preciso. O brilho nos olhos e a paixão por estar submerso nesse universo tão encantador são nítidos e sua entrega, sem sombra de dúvida, nos emociona. Seu canto comove e é assertivo em todos os momentos do musical. A execução de “me afogando” (falling slowly), interpretada sensivelmente com Bruna, me levou às lágrimas e me deixou sem ar. O dueto se inicia com a atriz ao piano e Lucas no violão e, numa crescente enriquecedora, pouco a pouco, os instrumentos dos demais atores que compõe o elenco são acrescentados culminando num número potente e arrebatador.
Mais uma vez nos deparamos com a genialidade de Zé Henrique de Paula (direção) e Fernanda Maia (direção musical) ao conhecermos essa montagem inédita do espetáculo. A parceria da dupla é antiga e já conhecida por trabalhos como “Cabaret dos bichos”, “Lembro todo dia de você”, “Chaves, um tributo musical”, “Sweeney Todd” e “Brenda Lee e o palácio das princesas”, por exemplo.
Junto a Gabriel Malo, que cuidou impecavelmente da coreografia do espetáculo trazendo uma movimentação imponente e atraente para a atmosfera da narrativa e Mariana Elisabetsky, que nos entrega versões tão belas quanto as originais, temos uma obra capaz de nos afogar nesse rio intenso de relações humanas e nos fazer esquecer do mundo de fora pelo tempo que o espetáculo dura. A preparação vocal ficou sob a competente responsabilidade de Rafa Miranda e o design de luz, utilizado brilhantemente para criar ambientes ora intimistas e tristes, ora mais divertidos, foi pensado por Fran Barros. A cenografia, desenvolvida por Cesar Costa, também impressiona e nos transporta facilmente de uma loja de instrumentos musicais à sala do gerente do banco em poucos instantes com soluções simples, mas absurdamente críveis.
Durante um passeio pela cidade de Dublin, Ela e Ele compartilham um diálogo responsável por me emocionar muito. Nesse momento Ela se declara em tcheco e o público entende o que foi dito, mas o personagem interpretado por Lucas não. A solução que os criativos tiveram foi simples, mas brilhante. E o musical inteiro é fundado nessa simplicidade funcional e que comove. A equipe mais uma vez mostra que não é preciso figurinos suntuosos ou efeitos especiais mirabolantes para que o público seja sensibilizado.
Outro frescor trazido nessa montagem é a ausência da orquestra. Dessa vez, os atores são os próprios músicos e, além de usarem suas vozes e corpos, se unem para dar força à história também com seus instrumentos. Completando esse time primoroso, juntam-se ao casal de protagonistas: a veterana Andrezza Massei, que está muito à vontade em cena interpretando Baruska, a mãe de Ela, e tocando acordeão; Nando Pradho, outro ator veterano do teatro musical que retorna aos palcos brasileiros personificando o divertido Billy e preenchendo o espaço com o som do cajon; Moises Lima, que estreia nesse universo e empresta sua arte para viver o personagem Pai, tocando lindamente o cello; e Samir Alves, Abner Depret, Thiago Brisolla, Gui Leal, Paulinho Ocanha, Bruna Zenti, Pedro Vulpe, Sofie Orleans, Thiago Mota, Mikael Marmorato , Vanessa Espósito, Juliana Suman e Livia Maria.
O musical, que estreia no dia 17 de março, ficará em cartaz até o dia 21 de maio, no Teatro Villa Lobos, às sextas e sábados às 21h, nos sábados também às 17h e nos domingos às 16h e às 20h, é uma co-produção da Palco 7 Produções, de Marco Griesi, Rega Início Produções, de Renata Alvim, e Solo Entretenimento, de Daniella Griesi. Os ingressos custam entre R$25 e R$200 e podem ser adquiridos na bilheteria do teatro ou no site da Sympla. Para mais informações, acesse o perfil oficial do musical no instagram.
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