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“A Pequena Sereia” chega aos cinemas trazendo visuais e vocais deslumbrantes | Crítica

Quando o filme se inicia, em meio à ondas gigantescas e à imensidão do mar, lemos a seguinte frase na tela “mas uma sereia não tem lágrimas, e, portanto, ela sofre muito mais”, que foi retirada do conto de Hans Christian Andersen – poeta e escritor dinamarquês de histórias infantis e autor de “A Pequena Sereia”, que mais tarde, em 1989 mais precisamente, serviria de inspiração para que Walt Disney lançasse a animação homônima que lhe rendeu prêmios relevantes como o Oscar, Grammy e Globo de Ouro. Ela também foi responsável por reavivar a arte de animação dos estúdios e de acumular críticas majoritariamente positivas após duas décadas difíceis e de fracasso comercial, marcando assim o início da era conhecida como o “renascimento da Disney”.

Após 34 anos desde o seu lançamento e de outros grandes clássicos como “Aladdin” e “O Rei Leão” ganharem suas versões em live-action, chegou a vez da tão aguardada sereia de cabelos vermelhos e perdidamente apaixonada pelo mundo dos humanos, Ariel, trazer todo o seu encantamento para as telonas mundo afora. 

Foto: Divulgação

Uma das coisas mais impressionantes dessa versão é a potência que a música impõe à narrativa. A trilha sonora está primorosa e a orquestra é excepcionalmente capaz de ambientar a história e criar atmosferas de acordo com a emoção desejada em cada cena, seja num momento de mais dinamismo, dramaticidade, entusiasmo ou vilania. Alan Menken, veterano dos estúdios Disney e compositor original da animação, junta-se à Lin-Manuel Miranda, que compôs as músicas de “Encanto” e “Moana”, além de ser o criador do premiado musical da Broadway “Hamilton”, e trazem 3 canções inéditas ao filme, que são capazes de transcendê-lo e continuar nas nossas mentes mesmo após seu término. E para refletir momentos mais atuais, algumas letras – das canções clássicas – foram modificadas. 

E falando sobre atualidade, não tem como ignorarmos o fato dessa personagem tão icônica ser interpretada, pela primeira vez, por uma mulher preta. A relevância que essa escolha tem para as futuras gerações é indiscutível. 

Além das músicas, os estúdios Disney surpreenderam mais uma vez ao criarem um universo subaquático de tirar o fôlego. Esse mundo reimaginado é repleto de cores, texturas e camadas de detalhes absurdamente ricos e impressionantes. Os cenários onde Ariel interage com seus amigos e família são claros e de cores vívidas e translúcidas, que rapidamente se modificam e escurecem quando ela está explorando navios naufragados em busca de tesouros humanos para sua coleção. O covil de Úrsula também nos arrebata com sua admirável suntuosidade. Além de ser um ambiente tenebroso e com pouca iluminação, alguns elementos, como suas poções, possuem tons fluorescentes que trazem um contraste muito interessante ao visual da vilã. O mundo na superfície também é igualmente minuciado e, tanto os ambientes de dentro do castelo, onde o príncipe mora, quanto a vila que ele apresenta à Ariel ao conhecê-la melhor são enérgicos e vibrantes, assim como seus habitantes. E, nesse momento, para homenagear a clássica animação de 1989, Jodi Benson, dubladora da Ariel, aparece rapidamente como uma comerciante nesse lugar cheio de diversidade e dança.

Foto: Divulgação

A movimentação dos seres do mar nesse mundo abaixo da superfície está fluido e orgânico. As sereias deslizam naturalmente pelas águas e seus cabelos se deslocam de um lado a outro de um jeito admiravelmente agradável, assim como os cabelos e barba do Rei Tritão.

A visão geral se mantém fiel ao clássico do fim dos anos 80, mas algumas mudanças foram feitas e, na minha opinião, só trouxeram ganhos à narrativa. Nessa nova versão vemos a protagonista se encantar pelo príncipe Eric não apenas por sua aparência ou por puro deslumbramento, mas por se identificar com a maneira em que ele se sente deslocado em relação ao mundo em que o cerca. E o mesmo acontece quando ela, já humana, o encontra no mundo cheio de ar. O relacionamento dos dois é construído gradativamente e é baseado em se conectarem, se entenderem e se sentirem como peixes fora d’água, cada um à sua maneira.

Os animais que dividem as cenas com os personagens principais, apesar de serem apresentados numa versão mais realista, continuam encantadores e divertidos. Em muitos momentos a química entre o crustáceo Sebastião e a atrapalhada gaivota Sabidão, por exemplo, rouba a cena e a dupla – dublada por Daveed Diggs e Awkwafina, respectivamente – até ganhou um rap hilário e com a nítida influência e assinatura de Lin. Em contraponto, muito mais sombrias e assustadoras, temos as serpentes do mar que acompanham Ursula e a ajudam a executar seus planos maléficos.

Encabeçando o elenco estelar dessa nova versão temos Halle Bailey interpretando a filha caçula do rei Tritão. A cantora que, até então era conhecida por dividir os vocais com a irmã na dupla Chloe x Halle, foi a escolha mais certeira que a Disney poderia ter feito. A personagem Ariel é indiscutivelmente conhecida por sua fascinante voz, o que a maioria das pessoas imaginava que não seria problema para Halle. Contudo, as expectativas até mesmo dos compositores da obra – que ficaram estarrecidos com a maneira como ela se apropriou de canções que já haviam sido imortalizadas na doce voz de Jodi Benson – foram superadas. Somado a isso, Halle nos entregou uma Ariel genuinamente encantadora. Sua bravura e entusiasmo são dosados com maestria em sua atuação, que está impecável. Tanto nos momentos onde Ariel é vista com barbatanas e cauda, quanto nos momentos onde ela caminha com seu par de pernas humanas ela é genuinamente convincente. Seu olhar atento aos detalhes do mundo humano e inocência são tão expressivos quanto nos momentos onde ela enfrenta seu pai para lutar pelo que acredita ser correto. Sua execução de “Part Of Your World” emociona e seduz. 

Outro ser de extrema importância para o desenvolvimento do filme é a conhecida Ursula, irmã de Tritão. A vilã octópode, assim como na animação, é puro sarcasmo e deboche. Melissa McCarthy e seus tentáculos captam a atenção do público desde a sua primeira aparição na tela, mas é na hora em que ela executa a clássica “Poor Unfortunate Souls” que seu momento de aclamação chega. Nessa cena cheia de efeitos e luzes e com uma voz carregada de drama, Melissa é capaz de entregar tudo que a personagem pedia e, ao contrário do que estávamos acostumados a ver a atriz fazer em trabalhos anteriores, é  assombroso vê-la tão à vontade nesse papel antagônico.

Javier Bardem, como era esperado do rei dos 7 mares, é temível e imponente e sua voz ecoa pelos mares de forma firme e autoritária. Na frente de suas filhas, principalmente de Ariel, ele se mostra completamente irredutível, mas quando se aconselha com Sebastião, ele é apenas um pai preocupado e amoroso. Esse temor, resultante da intolerância a alguém diferente de seu povo, acaba culminando na briga responsável por fazer com que Ariel vá ao encontro da Bruxa do Mar, onde troca sua bela voz por um par de pernas para habitar no mundo da superfície. Contudo, após o desfecho da história, vemos Tritão entender e reavaliar suas prioridades, colocando o papel de pai antes do papel de rei.

Eric é interpretado por Jonah Hauer-King, que nos entrega um príncipe carismático e atencioso. Nessa versão, assim como Ariel, ele também enfrenta problemas relacionados ao não pertencimento ao lugar aonde vive e a busca por seus ideais se assemelha muito aos da jovem sereia. O personagem também ganhou uma música – “Wild Uncharted Waters” – que é cantada em tom de desespero, já que o mesmo encontra-se a ponto de enlouquecer para encontrar a moça que o salvou do naufrágio no início do filme. A dinâmica entre Jonah e Halle é espontânea e completamente crível. Não tem como não perceber o entrosamento entre ambos e torcer pelo romance crescente entre o casal nitidamente apaixonado.

(Foto: Walt Disney Studios Motion Pictures / Courtesy Everett Collection)

As canções que compõe a trilha sonora do filme – tanto as versões originais, quanto as versões em português – estão disponíveis nas plataformas de streaming desde o dia 19 de maio, e nela podemos nos encantar também com as vozes de Laura Castro e Andrezza Massei, – ambas atrizes e dubladoras com vasta experiência em teatro musical – que emprestaram suas vozes, respectivamente, para Ariel e Ursula aqui no Brasil.

+ Laura Castro dubla Ariel em “A Pequena Sereia”: “Pessoa mais sortuda desse mundo”

Em julho de 2021, Halle postou uma foto em suas redes sociais que anunciava o fim das gravações do live-action de “A Pequena Sereia” e, depois de quase dois anos, – e de muita ansiedade – o momento de poder conferir o resultado de todo esse trabalho finalmente chegou. A partir de 25 de maio, nos cinemas do mundo inteiro, essa obra visualmente deslumbrante estará disponível e, assim  como eu, a probabilidade de você se apaixonar, mais uma vez, por esse clássico reimaginado é praticamente certeira.

Assista ao trailer da produção:

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Escrita por Édipo Regis

Pernambucano em SP apaixonado por arte e suas mais variadas formas de existir. encontrou nas aquarelas e, agora, nas palavras, um jeito de expressar o que sua mente inquieta pensa.