Vestida de vermelho brilhante, em um look feito sob medida pelo ateliê Laboissiere, Negra Li subiu na última quinta (25) ao palco do Sesc Bom Retiro, em São Paulo, para entoar sucessos de duas décadas de carreira e celebrar sua própria trajetória. Foi hit atrás de hit, começando pela atemporal “Você Vai Estar na Minha”.
Cheia de energia, Negra Li desceu para a plateia, cantou parabéns para uma fã, dançou e manteve o clima de festa durante as quase duas horas de show. No repertório, suas colaborações clássicas fizeram o público vibrar e voltar no tempo – “Ainda Gosto Dela”, com a banda Skank, “1 Minuto”, parceria com D’Black, a clássica “Rap é Compromisso”, com o rapper Sabotage, e “Não é Sério”, com o grupo Charlie Brown Jr.
Também não ficaram de fora sucessos de seu primeiro trabalho em carreira solo, o disco “Guerreiro, Guerreira” (2005), e músicas mais recentes, como “Era Uma Vez Liliane” e “Malagueta”, que farão parte de seu próximo álbum de estúdio, ainda sem data de estreia. Um dos pontos altos da apresentação foi o tributo ao supergrupo Fugees, quando Negra Li entregou vocais precisos com a canção “Killing Me Softly With His Song”.
A apresentação teve ainda participação do rapper Fabio Brazza, que cantou “Anjos de Asas Negras” com a artista e levantou o público com rimas freestyles que exaltavam Li. Após o show, a Poltrona Vip conversou com a Negra Li, que comentou sobre a emoção de voltar aos palcos, a pressão de produzir na era dos streamings, deu dicas sobre o que podemos esperar no seu próximo disco e comentou sobre sua extensa carreira.
“Eu estava bem ansiosa, sabe? Foi uma escolha minha não ter voltado antes porque eu estava nesse processo do show e do disco novos. Eu queria esse tempo. É importante analisar, olhar de fora sua carreira e saber como você quer estar agora. Mas eu também não parei, lancei duas músicas [a intimista ‘Era Uma Vez Liliane’ e ‘Malagueta’, em parceria com Rincon Sapiência] para continuar perto do meu público”, diz a artista sobre a volta aos palcos. “Esse tempo foi muito importante para mim, hoje eu sei o que eu quero e esse disco tá ficando lindo! Estamos produzindo com o maior carinho, falta pouco, e eu não vejo a hora de vocês poderem ouvir!”.
Reconhecida por colaborações de sucesso e que marcaram época, Negra Li brinca quando perguntada sobre as possíveis parcerias do novo trabalho: “É a revanche, né? Eu já fiz tantas participações, tá na hora de chamar a galera!”. E emenda: “Já tenho algumas colaborações gravadas, inclusive vocês vão adorar uma delas, mas não posso dar spoilers”.
Ainda sobre o processo criativo do novo disco, Negra Li afirma que “é um privilégio ter esse cuidado, esse tempo para produzir e poder mudar de caminho” em um mercado que sofreu tantas transformações nos últimos anos. “Estou sempre estudando e acompanhando as mudanças. Então eu lido bem com toda essa transformação. Tem que ser assim, se não a gente sofre. E eu não sou do passado, eu sou do futuro! O passado para nós pretos é muito sofrido, então eu quero pensar pra frente, eu sou daqui pra frente”, pontua.
Mesmo depois de mais de duas décadas de carreira sólida, Negra Li ainda carrega muitos sonhos. “A Anitta e outras pessoas já nos provaram que dá para ir além, que o mundo ficou pequeno. Quando eu vejo as nossas artistas se aproximando de nomes internacionais eu sinto esperança, tenho fé de que também vou ocupar esses espaços. E fico pensando, quem vai ser? A Megan? Hmmm… Quem vai ser?”, brinca entre risos.
Outros sonhos acabaram ficando no passado, mas a ajudaram a entender seu lugar na música. “Uma vez que eu cheguei no na gravadora e falei que eu queria gravar um disco de bossa nova e eles ficaram espantados. Isso foi em 2006, antes do ‘Negra Livre’. Eles diziam: mas você é a Negra Li, só você faz isso, você tem noção de quantas pessoas queriam estar no seu lugar?”, relembra. “Eu sou de fases, tenho esses meus momentos. Eu estudei em uma escola de música, tive muito contato com a música popular brasileira, o blues e o jazz, e foi isso que me deu vontade de fazer esse tipo de som, mas depois eu entendi que já tinha meu lugar e eu precisava me apropriar dele”.
A cantora também comentou sobre o início da carreira, quando não havia visibilidade massiva para artistas negras na música. “Era muito triste, muito solitário onde eu estava [no mercado]. Hoje, poder ver tantas mulheres pretas como a Iza, a Ludmilla, a MC Soffia, a Marvvila, a Rebecca… Cantando e fazendo sucesso, é muito legal! Todas crescem juntas”, diz Negra Li, olhando para a coletividade. “Antes não tinha graça nenhuma, era muito difícil estar sozinha. Eu lembro que sentia que não pertencia ali. Agora está muito melhor, do jeito que eu sonhava e esperava, com mais mulheres. Me sinto mais à vontade, sabe? Agora eu falo: esse lugar é meu, também me pertence! Elas estão aqui e estão voando, eu estou voando…”, diz emocionada. “Hoje eu sinto muita honra. Porque eu escrevi uma história linda, desenvolvi minha carreira… Só tenho do que me orgulhar”.
Escrito por Gustavo Koch.
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