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“O menino que matou meus pais” e “A menina que matou os pais” surpreendem com ótimo elenco, mas possuem pouca personalidade | Crítica

Foto: Divulgação

Estreou na última sexta-feira, 24, no Prime Vídeo, os longas “O Menino que matou meus pais” e “A menina que matou os pais” que contam a história, através de perspectivas diferentes, de um dos crimes mais infames e de maior repercussão nacional. Dirigidos por Maurício Eça, os filmes vem sendo alvejados por elogios do público popular por conta do incrível desempenho do elenco e de sua construção técnica, mas será que são isso tudo mesmo?

Os dois trabalhos se baseiam no assombroso caso de Suzane von Richthofen (Carla Diaz), a jovem que planejou e executou o assassinato dos próprios pais, em 2002, com a ajuda de seu ex namorado Daniel Cravinhos (Leonardo Bittencourt) e o irmão dele, Cristian Cravinhos (Allan Souza Lima). As tramas, que tiveram o roteiro escrito por Ilana Casoy e Raphael Montes, funcionam como uma análise dos relatos pessoais dos acusados, Suzane e Daniel, sobre o desenrolar dos crimes que cometeram. É possível acompanhar de perto os argumentos pronunciados pelos réus em defesa de si mesmos.

Um dos principais motivos que fizeram o projeto ter arrancado tantos elogios, seria a entrega dos atores. Carla Diaz, conhecida por trabalhar em diversas novelas como “Chiquititas” (1997), “O clone” (2001) e “Rebelde” (2011), levou os fãs à loucura ao protagonizar com perfeição uma das criminosas mais intrigantes do Brasil. A ex BBB impressionou tanto a crítica especializada quanto o público do sofá com a sua capacidade de desenvolver na tela, de forma tão realista, as diferentes facetas de uma personagem tão complexa e junto dela o ator Leonardo Bittencourt, mais conhecido por trabalhar em “Malhação: vidas brasileiras” (2018), entregou versatilidade e segurança. O elenco também conta com a presença de outros grandes atores como Vera Zimmermann e Leonardo Medeiros que interpretaram Marísia e Manfred von Richthofen, pais de Suzane.  

Além das grandes atuações, o que também vem sustentando a fama das recentes produções seria a curiosidade mórbida de um público que em sua maioria já conhecia o caso real. A verdade é que existe um desejo comum, principalmente entre os amantes de dramas policiais, de compreender qual seria a troca entre um casal de tão sangue frio. É claro que houve um aproveitamento dessas circunstâncias e investiu-se na explanação do caso, sobretudo, através dos diálogos. Os longas propuseram essa interação expondo, de maneira crua, a fria e delirante dinâmica verbal do casal, o que ilustra a falta de sanidade dos homicidas e deixa o espectador numa situação de aflição diante de uma realidade tão distante e incomum.  Há momentos específicos em que, com truques interessantes, esse desconforto é ainda mais acentuado, o uso de táticas como a quebra da quarta parede em cenas extremamente intensas consegue causar momentos arrepiantes e que conferem a sensação de estar sendo realmente arrastado para ainda mais perto daquele cenário perverso.

Digamos que o plano dos idealizadores de filmarem duas narrativas de uma vez só tenha sido um tanto ousado e até interessante, mas mesmo se apropriando dessa ousadia, não demonstraram muita inovação, as ideias são tímidas e limitadas. Faltou criatividade e isso pode ser notado na semelhança que os filmes tem um com o outro, o que não tem nada a ver com a assinatura do diretor, mas com a dificuldade de cada trama em transmitir a sua própria essência. Tudo bem que os dois projetos se completem embora sejam narrados por pessoas diferentes, mas o problema é que carregam pouca ou quase nada da autenticidade dos seus protagonistas, é como assistir o mesmo filme duas vezes.

Talvez se entre eles houvessem algumas diferenças técnicas, como por exemplo, na maneira em como a câmera é guiada, nas cores e iluminação do ambiente ou na trilha sonora, novos impactos pudessem ser causados. Pequenos detalhes que com uma direção mais criativa seriam capazes de elucidar mais efetivamente e com mais singularidade o estado mental ou o ponto de vista desses personagens e que também permitiria uma maior compreensão de quem eles são.

É preciso lembrar que uma das peculiaridades do cinema é de não precisar somente de diálogos para funcionar, mesmo que eles sejam muito bons. Tudo o que faz parte de uma produção, desde a direção de arte até um enquadramento, existe para ajudar a contar a história e quando esses artifícios são ignorados, o filme perde boa parte do seu potencial. 

“O menino que matou meus pais” e “A menina que matou os pais” podem não ser perfeitos, mas ainda conseguem ser intrigantes e capazes de chamar a atenção para seus conflitos, além de trazer de volta à tona talentos que talvez estejam sendo deixados de lado e que com certeza merecem mais visibilidade, como acontece com Carla Diaz. O filme também ajuda a direcionar mais o olhar popular para o cinema nacional, o que também é importante.

Assista o trailer:

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Escrita por Victória da Silva