“Norte e Sul” conta a história de Margareth Hale, uma típica jovem da aristocracia do Sul da Inglaterra que se muda para o Norte industrial e que, ao chegar na pequena mas próspera Milton, é obrigada a conviver com várias facetas desse novo mundo que se constrói bem longe dos vilarejos alegres e jantares londrinos à qual está acostumada.
Como se pode perceber, eu não fiz nenhuma menção ao ser par romântico, o Sr. Thornthon, pois, ao contrário do que é vendido na própria sinopse do livro, esse não é um romance à a Jane Austen e muito menos a narrativa de como duas pessoas completamente diferentes se apaixonam. Por muito, tentei fugir à comparação entre esse e ‘Orgulho e Preconceito’ mas faz-se necessário tal menção constante visto a quantidade de vezes que ambos são colocados no mesmo patamar.
Enquanto Elizabeth Bennet e Sr. Darcy são sujeitos de mesma natureza que se repelem à princípio, não por suas diferenças mas por suas similaridades e são incapazes de reconhecer isso um no outro, Margareth e Thornton são, de fato, criaturas que, se não antagônicas, de certo com conceitos e experiências de vida tão distintas um do outro que se torna incapaz qualquer tipo de relação amigável entre eles até que ambos aceitem determinadas realidades que lhe são irreconhecíveis – em especial da Srta Hale que, ao início da narrativa é, de fato, uma moça preconceituosa.
E, o que torna quase irritante essa comparação constante com o clássico de Austen (que é maravilhoso mesmo, merece ser lido, relido e analisado mas não é parecido com o da Gaskell – igualmente maravilhoso mas com identidade própria) é o fato que a narrativa de Norte e Sul não foca em seu casal protagonista mas nas experiências que levam Margareth a superar suas ideias distorcidas sobre o universo fabril e as pessoas quem vivem e trabalham no setor – do operário ao patrão.
O livro – originalmente publicado em folhetim (as marcas do gênero são facilmente reconhecíveis aos fins dos capítulos) – de fato usa os olhos ‘crus’ de Margareth para explorar as delicadezas e mazelas de toda uma parcela da sociedade que era excluída do cenário intelectual da época (não que isso tenha mudado significantemente de lá pra cá). Relação patrão-empregado, greve, direitos trabalhistas, dignidade humana, pobreza e classes sociais são temas diretamente confrontados pela personagem que se vê em meio à conflitos pessoais gerados pelo choque com uma estrutura social completamente diferente da sua até então.
O romance é habilmente desenvolvido pela autora a partir das mudanças de perspectiva e pensamento da moça: quanto mais ela entendia aquele ‘novo’ mundo, mais as características que antes lhe pareciam defeitos no industrial se transformam em qualidades e o mesmo vai se tornando gradualmente mais atraente à ela.
No mais, pouco se tem a acrescentar que provavelmente não foi dito sobre esta obra: fruto da literatura inglesa, de autora feminina que preconiza o protagonismo das mulheres no mundo e absolutamente atual e encantador – como se espera de qualquer livro que recebe a alcunha de ‘clássico’. Precisa mesmo encerrar esse texto recomendando sua leitura?
Titulo: Norte e Sul
Autora: Elizabeth Gaskell
Editora: Martin Claret
Gêneros: Literatura e Ficção
Edição: 1ª (1 de junho de 2015);
Número de páginas: 746 páginas
ISBN: 978-8544000335
Ano: 2007
Resenha escrita por Ludmilla Fadel (@ludmilla_fadel)
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