São Paulo irá ganhar o primeiro festival dedicado exclusivamente às demandas das pessoas LGBTQIAP+ no mercado musical. Transforma Música acontece entre os dias 9 e 23 de junho no Centro Cultural Olido, no Centro Histórico da cidade. A programação é gratuita e vai reunir artistas e profissionais do setor em atividades formativas sobre temas de criação e gestão de música, além de shows e mostra de videoclipes.
Dentre os destaques da programação estão a participação das cantoras Filipe Catto e Jup do Bairro em conversas e shows, as apresentações do histórico duo de música eletrônica Noporn e da cantora goiana de R&B Bruna Mendez. Destacam-se também os encontros com profissionais como Bia Bem, especialista em marketing digital que se tornou referência em comunicação musical ao trabalhar com Linn da Quebrada, e João Monteiro, diretor de filmes e videoclipes que já colaborou com alguns dos maiores nomes do cenário mainstream brasileiro, como Pabllo Vittar, Ludmilla e Gloria Groove.
Em sua primeira edição, o projeto vai promover o compartilhamento de ideias e ferramentas que auxiliem no desenvolvimento de novos artistas LGBTQIAP+, sejam jovens ou em início de carreira, apresentando uma programação temática dividida em dois eixos, Criação e Gestão, e que tensiona assuntos como identidade, gênero, raça e sexualidade. “Nossos temas e convidados são grandes referências em suas áreas e se mantêm fiéis a uma ética de trabalho que desafia a binaridade de gênero e outros padrões normativos impostos aos nossos corpos”, explica o curador e um dos criadores do Transforma Música, o filósofo e artista queer Ali Prando. “Esse encontro entre experiência e pensamento é tão urgente, quanto explosivo”, diz.
A retomada do setor cultural também é uma preocupação do Transforma Música. “O festival acontece neste momento de celebração de rápidos e grandes avanços na política cultural brasileira, como a Lei Paulo Gustavo, mas não podemos esquecer do rastro de destruição e do extenso e complexo trabalho de saneamento social e econômico que precisa ser feito. Fortalecer artistas e profissionais que estão adentrando o mercado agora, ao mesmo tempo em que debatemos questões que atravessam nossas existências, é um movimento em busca ajustes no setor”, diz Gustavo Koch, produtor executivo e co-curador da iniciativa.
“São inúmeras as questões que dificultam a participação das pessoas queer na indústria musical, mesmo no mercado independente. O Transforma Música surge, então, como uma oportunidade de criação de redes e celebração da cultura transviada brasileira para que tenhamos um cenário mais saudável e sustentável no futuro”, explica Prando. “Não é mais sobre ‘ocupar espaços’, estamos em uma fase onde podemos criar nossos próprios espaços, porque os lugares antes ocupados, de um jeito ou de outro, sempre nos cabiam através de diversas violências”, complementa o artista.
“A identidade virou rótulo musical”, aponta Koch. “Artistas LGBTQIAP+ são resumidos a seus corpos e pautas perante os algoritmos das plataformas de streaming, diminuindo oportunidades de expansão das suas carreiras e obras. Fica parecendo que fazemos música para nós mesmos, enquanto, na verdade, alguns dos melhores trabalhos da MPB contemporânea foram feitos pelos nossos, por exemplo, mas seguem restritos ao nicho por conta de lógicas do mercado”, diz o produtor.
Essas e outras questões formulam as ações do projeto, que foi viabilizado por meio do Programa de Ação Cultural (ProAC) do governo estadual, e com apoio da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo.
Programação repleta de música e discussões sobre diversos temas
A programação começa no dia 9 de junho, sexta-feira, a partir das 18h, quando será aberta a mostra de videoclipes Queer View, que reunirá trabalhos de artistas independentes LGBTQIAP+ brasileiros. A noite terá ainda apresentações da cantora Jup do Bairro e do DJ Gui Tintel (festas Trophy e Poppers). Não é necessário retirar ingressos para este dia.
No sábado (10), quem abre a sequência de atividades é Jup do Bairro, que vai conversar sobre os atravessamentos de ser uma artista LGBTQIAP+ no Brasil, a partir das 11h. A programação segue com participação da musicista Navalha Carrera (“Descobrindo sua sonoridade”, 14h) e o do diretor audiovisual João Monteiro (“A importância do videoclipe”, 15h45). As inscrições acontecem no local, por ordem de chegada. A partir das 18h, sobe ao palco da Sala Olido a cantora goiana Bruna Mendez, encerrando a turnê do seu disco “Corpo Possível (Deluxe”). Depois, às 19h30, é a vez de Filipe Catto apresentar os sucessos que marcaram sua carreira. Os ingressos para os shows deverão ser retirados online.
No domingo (11), o músico e especialista em marketing digital Siso abre a programação (“O papel das gravadoras e distribuidoras”, 13h). Na sequência, é a vez da produtora cultural Ana GB, que integra a equipe do festival Afropunk Bahia (“Planejamento de carreira e gestão de negócios”, 14h45). Encerrando o dia, o evento recebe Vander Lins, Coordenador de Programação Cultural e Projetos Especiais da Cidade de São Paulo (“Produção e gestão de projetos culturais”, 16h30). As inscrições acontecem no local, por ordem de chegada.
Na sexta-feira seguinte (16), o Transforma Música ocupa o saguão do Centro Cultural Olido mais uma vez para receber a banda russo-brasileira Meta Golova e o DJ Pedro Athie (festa Tesãozinho Inicial), a partir das 18h. O público também poderá assistir aos videoclipes da mostra Queer View. Não é necessário retirar ingressos para este dia.
No sábado (17), a programação terá mais conversas e shows. A primeira convidada do dia será a cantora Luiza Lian (“Direção de arte: o palco como tela”, 11h). Depois, participam a performer e diretora criativa Alma Negrot (“De Seco & Molhados a Beyoncé: moda e música”, 14h), e a cantora Filipe Catto (“As relações entre música e design”, 15h45). As inscrições acontecem no local, por ordem de chegada. A partir das 18h, a Sala Olido se transformará em pista de dança. A partir das 17h40, o músico experimental Vítor Marsula apresenta seu disco “Anjos Fósseis”. Em seguida, ALI mostra sua ópera-eletrônica “GLITCH” (2023), que une teoria queer e música eletrônica (18h). Encerrando a noite em grande estilo, o duo de música eletrônica Noporn apresenta seus hits que seguem ecoando na noite paulistana ao longo das duas últimas décadas (19h30). Os ingressos para os shows deverão ser retirados online.
No domingo (18), a programação de conversas segue intensa, começando com a rapper e bacharel em direito Realleza (“Contratos artísticos e direitos autorais”, 13h). Depois, é a vez da especialista em comunicação digital para música e cultura Bia Bem (“Redes sociais: laboratórios de conexões”, 14h45). Por fim, o festival recebe o jornalista Ademir Correa e o assessor de imprensa Vicente Negrão (“Música independente: a relação com a imprensa no Brasil”, 16h30). As inscrições acontecem no local, por ordem de chegada.
Encerrando sua programação, o Transforma Música vai realizar um workshop sobre redação de projetos culturais nos dias 22 e 23 de junho. Nos encontros, os participantes aprenderão técnicas de redação e planejamento, além de discutir os editais da Lei Paulo Gustavo. Para participar é necessário se inscrever online, no site do festival.
Queer View
A mostra de videoclipes Queer View é um espaço de visibilidade e valorização da produção audiovisual de artistas dissidentes brasileiros que abordam temas relacionados à corpo, tecnologia, gênero, sexualidade, precariedade e loucura, entre outras questões. Os vídeos serão exibidos no Hub Olido, espaço dedicado à cultura digital do centro cultural. O site de música independente Hits Perdidos participa da curadoria. A visitação poderá ser feita ao longo do festival, de terça a sexta das 10h às 21h, e aos sábados e domingos das 13h às 20h. Artistas que desejarem participar da seleção deverão se inscrever online, entre os dias 17 e 31 de maio, no site do festival.
Serviço
Transforma Música
De 9 a 23 de junho, em São Paulo
Centro Cultural Olido – Av. São João, 473, Centro
Programação gratuita
Para saber todas as informações, acesse o site oficial.