Cleo reuniu amigos, familiares e imprensa no lendário Cine Odeon, no Rio de Janeiro, para o lançamento do novo projeto “Cleo On Demand”. A iniciativa audiovisual será disponibilizada no IGTV, plataforma do Instagram, rede social onde a artista conta com 11,4 milhões de seguidores.
Em “Cleo On Demand”, serão abordadas temáticas relacionadas a minorias com o objetivo de gerar debate e levar informação. As três primeiras atrações da plataforma são a série de ficção “Onde Está Mariana?”, a animação “Diva” e o programa “Expressão”. Feminicídio, LGBTfobia, arte e cultura estão entre as principais pautas.
O projeto conta com estrelas da música, como Valesca Popozuda, Pepita, MC Rebecca e King. Sobre a escolha do elenco, Cleo pontuou: “Eram pessoas que eu queria trabalhar. Elas têm um universo interior maravilhoso”.
Os conteúdos serão disponibilizados mensalmente no IGTV de Cleo. “A gente quer transformar o meu IGTV numa plataforma ‘on demand’ que esteja na ponta do dedo das pessoas e que seja gratuito, com conteúdos que a gente gostaria que tivessem mais incentivos para serem produzidos”, afirmou a atriz, que estreia como produtora executiva no projeto.
“Onde está Mariana?”
O primeiro conteúdo do “Cleo On Demand” a ser disponibilizado é a série ficcional “Onde Está Mariana?”. A história mostra, em quatro episódios, a busca da família por Mariana, uma jovem de 23 anos que se livra de um relacionamento abusivo, mas some misteriosamente em seguida.
A protagonista é vivida pela cantora MC Rebecca, que estreia em um trabalho de dramaturgia. “Eu nunca imaginei que seria atriz e a Cleo me deu essa oportunidade. O processo de preparação foi muito intenso porque a gente teve que misturar várias emoções. Às vezes, tinha que ficar gritando igual maluco. Foi uma experiência incrível. Pode me chamar pra fazer novela porque eu já tô me sentindo atriz”, brincou a dona do hit “Ao Som do 150”.
Outra funkeira que atua em “Onde Está Mariana?” é Valesca Popozuda. Apesar de não ser estreante em atuação, a cantora destacou que foi uma experiência completamente nova. “Foi muito mais do que atuar. Foi poder mostrar pra essas mulheres que elas nunca devem se calar, como um dia eu me calei, como um dia minha mãe se calou. O que Mariana passou, eu tive uma irmã que passou também. Quando esse roteiro veio pra mim, eu li e me identifiquei muito”, revelou a intérprete, que vive Fabíola, amiga de Mariana.
A rapper e compositora King, que vive Erika, também viu na família um drama semelhante ao da protagonista. “Foi muito pesado ler o roteiro, mas foi necessário. Se eu tivesse que reviver isso, que fosse para informar às outras pessoas, para que outras mulheres tivessem acesso e entendessem que elas não precisam passar por isso”, contou.
O elenco da série é completado por Vilma Melo, que dará vida à Virgínia, mãe da protagonista. A atriz destacou o crescimento dos casos de feminicídio entre as mulheres negras, que, em 2018, se revelou 71% superior ao das brancas. “Esse tema me toca muito e a todas nós mulheres e também aos homens. Porque o feminicídio é um problema masculino. São eles que fazem contra a gente”, destacou Vilma, que se disse honrada por fazer parte da iniciativa. “Num momento em que artistas estão sendo muito perseguidos e há a violação de um nome como Fernanda Montenegro, nós temos que unir forças e tentar mudar o mundo através da nossa arte”, reiterou.
O espaço do Instagram
O principal objetivo de utilizar a plataforma do IGTV para os programas do “On Demand” foi o alcance do discurso de Cleo. Conhecida por se posicionar a favor das minorias, ela se classifica como uma “feminista em construção”: “Ainda faço coisas que depois fico ‘puts, que erro’, infelizmente. A sociedade é muito construída em cima do machismo e do racismo, são coisas que a gente tem que desconstruir.”
Um espaço com 11 milhões de seguidores parece o local perfeito para isso, como destacou Valesca Popozuda: “A gente tem uma ferramenta muito boa, então, a gente tem que usar. Todo mundo olha sempre o Instagram e as mulheres podem buscar informação”.
King salientou o fácil acesso à rede social como fator positivo. “Eu acredito que as coisas acontecem quando elas começam a acessar a periferia. É fácil dialogar sobre muitas coisas no Centro e na Zona Sul, não que essas coisas não aconteçam nesses locais, mas existe mais diálogo. Na periferia, esse tipo de diálogo não acontece. Estando na internet e com uma pessoa que acessa um nicho tão grande como a Cleo, é extremamente importante”, falou.
Vilma Melo salientou a importância de alternativas em um momento de cortes de investimentos em arte. “A Ancine está aí pra dizer o que a gente não pode fazer. Essa plataforma vem pra dizer que a gente deve fazer”, afirmou a vencedora do Prêmio Shell de Melhor Atriz.
Os próximos projetos
Além da série de ficção, o “Cleo On Demand” já conta com outros dois produtos que serão lançados nas próximas semanas.
O primeiro deles é o programa “Expressão”, apresentado pelo artista plástico Rômulo DeuCria. Na atração, ele customiza peças de roupas de artistas e dá a elas um novo significado. Os episódios contarão com as participações de Sabrina Sato, Giovanna Ewbank, Luísa Sonza e um convidado surpresa.
“Traduzir em arte é mais fácil que traduzir em palavras. Quem acompanhar os episódios vai se surpreender com o resultado final porque eu acho que a moda também ajuda a arte a se concluir. Às vezes, um quadro fica na parede e não tem esse movimento que essas pessoas vão trazer para as minhas roupas”, declarou o artista.
O outro conteúdo é a animação “Diva”, feita por Felipe Serafim. A trama mostra três heroínas que combatem crimes de ódio contra a população LGBT+ ao redor do mundo. A justificativa para a escolha do formato, segundo Cleo, foi a queda de investimentos em animação no Brasil.
As protagonistas serão dubladas por Cleo, MC Rebecca e Pepita. A intérprete de “Chama a Beleza”, que estreia como dubladora, enfatizou a relevância de fazer parte do projeto no país que mais mata travestis e transsexuais no mundo: “Quando a Cleo chegou com o convite, eu falei ‘ah, vamo deixar isso pra lá’. Aí as coisas foram rolando. Eu, como uma travesti que tem orgulho de ser travesti, vestir essa camisa foi maravilhoso. A dica que eu deixo para as pessoas que estão aqui hoje é que o ser humano tem direito de provar outros temperos e parar de querer provar só um”.
“Low budget”
“On Demand” surgiu da vontade de Cleo de trabalhar com essas pessoas e produzir determinados conteúdos. “Eu não penso no nome das coisas”, refletiu, sobre desempenhar a função de produtora executiva.
Cleo revelou que não contou com grandes investimentos para realizar o “On Demand” e que as limitações financeiras foram a principal dificuldade: “É um projeto de baixo orçamento, pequeno mesmo. Foi feito com o desejo de todo mundo de participar”, pontuou.
“Cleo On Demand” conta com uma grande equipe de roteiristas, diretores e idealizadores, a quem a produtora executiva não poupou elogios: “A gente vai entendendo os protocolos pra todo mundo ter um pouco de saúde mental e descanso, mas somos uma equipe que gosta muito do que faz. Estamos juntos acima de qualquer coisa. Sobra um pouquinho e o outro pega. É assim, junto”.