Filho de pai muçulmano e mãe judia, Abe (Noah Schnapp, mais conhecido por interpretar Will Byers na série “Stranger Things” ) é um simpático adolescente nova-iorquino que vive o conflito de ter que escolher entre as tradições dos pais sabendo que se agradar um, desagradará o outro. Frustrado com tantas desavenças, o jovem encontra na paixão pela culinária um caminho para unir sua família e ser quem deseja. E é nesse processo que ele conhece um chef brasileiro com quem aprende a cozinhar e também constrói uma grande amizade.
O longa-metragem, finalizado em 2019, mas que por conta da pandemia estreou em 5 de agosto, é um agradável passeio pela diversidade cultural presente na culinária de Nova York. Ao explorar esse lado da cidade Abe conhece Chico (Seu Jorge), um cozinheiro da Bahia que se mudou para o Brooklyn e ganha a vida criando pratos inspirados em diferentes países, então o garoto, empolgado com a dinâmica da cozinha profissional, consegue com Chico uma oportunidade de trabalhar e aprender.
O enredo faz diversas referências à culinária brasileira e é amarrado à uma trilha sonora marcada por representatividade que estabelece uma atmosfera intimista, porém ele falha em construir um elo entre os dois personagens. Apesar da simpatia marcante de Seu Jorge, seu personagem não evolui e pouco contribui com Schnapp deixando a desejar, a amizade entre os dois é pouco explorada e sustentada por diálogos lamentavelmente fracos. As sequências onde interagem são convencionais e nem um pouco marcantes, uma pena, já que os dois atores demonstram bastante química juntos.
A tarefa de definir um equilíbrio entre o que quer ser e o que sua família quer que ele seja é um dos desafios que Abe precisa enfrentar. Em um lar dividido pelas diferenças, seus pais não conseguem mais sustentar o peso das discordâncias que envolvem principalmente a questão de qual religião o filho deveria se assimilar. Desesperado em quebrar a barreira cultural e trazer de volta a harmonia entre seus pais e avós, o aspirante a chef de cozinha reproduz em casa o que aprendeu com Chico.
Apesar da potência do tema que a história carrega a sua argumentação não se materializa. A narrativa se perde novamente em dar profundidade ao arco dos personagens e não consegue sair da superficialidade. Os dilemas culturais que poderiam ser bem aproveitados e aperfeiçoados em camadas são na verdade muito mal encarados e o conflito familiar tem baixa intensidade. Isso é destacado principalmente nas cenas as quais seus avós – extremamente tradicionais conforme a religião que se identificam – só aparecem para discutir qual religião/cultura de fato deveria ser levada a sério.
Apesar de bastante genérico, o filme consegue transmitir através do ponto de vista jovial do personagem principal um clima divertido e confortável, isso graças ao carisma com o qual Fernando Grostein Andrade dirige a história e a maneira sutil e genuína como Noah Schnapp incorpora o personagem Abe, porém é inegável que os roteiristas Jacob Kader e Lameece Isaaq foram passivos nas próprias ideias ao construírem um roteiro cauteloso demais.
Por fim, “Abe” possui um arco dramático acanhado e se mantém tímido nos pontos de virada, mas serve protagonistas simpáticos com sonhos grandiosos que fazem com que a gente torça por eles. É um filme que com um pouco mais de coragem poderia ser levado a sério, mas que por conta dos erros de roteiro cai para a categoria “sessão da tarde”.
Confira o trailer: