A nova animação nacional da Netflix, “Super Drags”, estreiou na última sexta-feira (09) e, definitivamente, não é para crianças. Donizete, Ralph e Patrick são três amigos gays que trabalham juntos e, quando a comunidade LGBT+ precisa deles, se transformam nas drag queens Scarlet Carmesim, Safira Cyan e Lemon Chiffon para combater os vilões.
Confira o trailer:
A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) repudiou a animação em julho, antes mesmo de estrear, ao afirmar dos perigos “de se utilizar uma linguagem iminentemente infantil para discutir tópicos próprios do mundo adulto”. Diante disso, a produção deixou claro a classificação indicativa para maiores de 16 anos. Apesar dos comentários, as séries animadas com teor adulto já são referência no streaming como Big Mouth e Bojack Horseman, cujos temas são retratados com delicadeza e maestria.
Com um humor ácido e exibição sexual explícita, os protagonistas demostram características bem diferentes entre si a fim de representar a diversidade dentro da comunidade LGBT. Embora haja algumas questões exageradas e estereotipadas, é fácil se prender com as piadas. Além disso, não só estar atualizado nas gírias brasileiras e memes da internet, como também ter o mínimo de conhecimento sobre cultura pop e as terminologias LGBT são quase que essenciais para assistir e se deliciar com Super Drags.
A partir do primeiro episódio já é notório a forte presença de críticas sociais, políticas e religiosas. As personagens ao longo da série sempre tentam expor reflexões e lições de moral a partir de um tema específico. Para Patrick, os padrões opressores de beleza; e para Ralph, a luta que os filhos sofrem ao contar para os pais sua orientação sexual e identidade, a ponto de ser expulso de casa. Apesar de ter apenas cinco episódios com média de 25 minutos cada, Super Drags consegue educar e transmitir um acolhimento a quem assiste ao introduzir assuntos emblemáticos. Um dos episódios que mais chama atenção é o terceiro, “Cura Gay”, que fala um pouco do extremismo religioso e o direito de ir e vir que deveria ser universal, porém na prática não é bem assim.
Um incômodo que não interfere muito para a continuação da trama são os nomes dos personagens que, em sua maioria, são americanizados. Uma das poucas produções brasileiras no streaming traz pouca voz para a identidade nacional, apesar de todas as gírias do país.
Um dos destaques da animação é a dublagem brasileira: Pabllo Vittar dá voz à diva pop Goldiva, além de cantar a música de abertura “Highlight”; Sérgio Cantú dubla Patrick, Fernando Mendonça, Donizete e Wagner Follare faz a voz de Ralph. Para os coadjuvantes, Silvetty Montilla brilha como Vedete Champagne, Rapha Vélez como Lady Elza e Guilherme Briggs como Robertinho. Na versão em inglês, os fãs de RuPaul’s Drag Race vão amar! Ginger Minj, Shangela, Trixie Mattel e Willam Belli fazem parte do elenco de dublagem.
Criada por Anderson Mahanski, Fernando Mendonça e Paulo Lescaut, Super Drags traz referências às animações de infância como Meninas Superpoderoras (até mesmo a identificação visual das heroínas) e Três Espiãs Demais. Um roteiro bem encaixado do início ao fim, a série consegue apresentar todos os personagens e suas características impostas inclusive nas suas vestimentas de drag. Lady Elza causa um pouco de desconforto por não explicarem exatamente sua motivação como vilã e apresentar uma proposta meio clichê. No entanto, o final traz um gostinho de quero mais e deixa um ar ansioso para a segunda temporada. Faz esse favor né, Netflix?