Essa semana a Poltrona Vip está fazendo uma pequena jornada por alguns clássicos modernos do terror em comemoração ao Halloween. Continuando a série, depois do texto sobre a franquia “Pânico”, hoje é dia de falar de “Atividade Paranormal”.
Filmes de espíritos sempre foram referência, longas como “O Bebê de Rosemery” (1968), “O Exorcista” (1973), “Uma Noite Alucinante: A Morte do Demônio” (1981) e “Poltergeist – O Fenômeno” (1982) são clássicos não só dentro do gênero mas também dentro da história do cinema como um todo. E a década dos anos 2000 foi uma era especialmente prolífera para o subgênero sobrenatural no cinema de terror, depois de uma década cheia de filmes slasher de qualidade duvidosa, os estúdios passaram a dar mais atenção a esse tipo de história.
“Atividade Paranormal” chegou aos cinemas brasileiros em dezembro de 2009 depois de dois anos circulando no circuito de festivais e cinemas pequenos dos EUA. O filme, originalmente feito em 2007, foi produzido de forma independente com um orçamento pífio de US$ 14,9 mil dólares. Com o sucesso entre especialista do gênero, a produção chamou a atenção da Paramount Pictures, que comprou os direitos de distribuição e ganhou apadrinhamento de ninguém mais, ninguém menos que Steven Spielberg. O antológico diretor até mesmo contribuiu com o marketing do longa, afirmando que uma cópia assombrada do longa havia fechado uma porta de sua casa.
A trama do filme acompanha um casal que, após se mudarem para uma nova casa, ficam intrigados com uma aparente presença sobrenatural agindo sobre o lugar. Os dois decidem então instalar câmeras pela casa tentando capturar os fenômenos em vídeo. Com o passar dos dias os acontecimentos vão ficando cada vez mais estranhos e assustadores.
Apesar da história simples e elementos cenográficos de baixo custo, o apelo de “Atividade Paranormal” não está em ser caro ou tecnicamente bem feito. A produção, toda filmada no formato found footage se beneficia disso para gerar um ambiente sufocante para seu público, criando uma atmosfera de suspense com câmeras que não exatamente facilitam o entendimento do espectador com o que está sendo visto na tela. O diretor Oren Peli optou por deixar o filme mais no campo do suspense que no terror, com pouca entrega visual e aposta no incômodo da audiência.
Protagonizado por Katie Featherson e Micah Sloat, que emprestaram seus nomes reais para os personagens, o roteiro leva seus personagens a situações de estresse, raiva, confusão e finalmente a possessão. No entanto, a história só engrena verdadeiramente com a chegada do investigador de fenômenos paranormais interpretado por Mark Fredrichs, que adiciona uma dinâmica diferente à produção. Era necessário tirar um pouco o foco do casal, já que eles são o ponto central (basicamente o único) dos quase 90 minutos de filme.
O projeto, com ares de amadorismo conquistou um grande público já desde sua exibição nos festivais. Apesar disso, a versão que chegou aos cinemas era um pouco diferente, com cerca de dez minutos a menos, cenas invertidas, e um novo final, o que certamente fez subir o valor do orçamento original. Mas o visual amador de “Atividade Paranormal” persistiu e as imagens de baixa qualidade ajudaram no boca-a-boca, com alguns chegando até a chama-lo de “o maior filme de terror da década”.
O sucesso foi enorme, com arrecadação mundial de cerca de US$ 193 milhões. Visto o baixíssimo orçamento e o alto retorno, Hollywood passou a investir mais nesse formato de cinema, o chamado found footage, ou gravação encontrada. O tipo de produção passa longe de ter sido originado pelo longa.
Após o lançamento de “Holocausto Canibal” em 1980 o diretor teve que provar num tribunal que não havia causado a morte de seus atores. “A Bruxa de Blair”, lançado em 1999, causou arrepios ao redor do mundo, com pessoas acreditando que uma câmera tinha realmente sido achada numa floresta e os acontecimentos do filme eram reais. Em 2007 o espanhol “REC” também causou impacto ao misturar o formato com o subgênero de zumbis. Mas foi com “Atividade Paranormal” que os executivos viram o real potencial de lucro desse tipo de filme.
Depois de seu lançamento houve um boom de filmes desse tipo, vieram filmes como “O Último Exorcismo” (2010), “Amizade Desfeita” (2014), “Assim na Terra Como no Inferno” (2014) e “A Forca” (2015). Mas a influência não foi notada só no gênero do terror, o longa de super-heróis, e responsável por revelar Michael B. Jordan ao grande público, “Poder Sem Limites” (2012), a comédia “Projeto X – Uma Festa Fora de Controle” (2012), e a aventura “No Olho do Tornado” foram alguns a invadir os cinemas. A franquia também inspirou as comédias satíricas “Inatividade Paranormal” (2013), sua sequência lançada em 2014 e “Todo Mundo em Pânico 5” (2013).
Além de ajudar a popularizar o formato, a Paramout Pictures viu em “Atividade Paranormal” um novo caça-níqueis, rapidamente iniciando uma longa franquia. “Atividade Paranormal 2” (2010) veio expandido a franquia para outra parte da família de Katie, em uma sequência melhor realizada que o original. O primeiro spin-off veio no mesmo ano, “Atividade Paranormal em Tóquio”, cuja trama nada tem a ver com o restante da franquia. “Atividade Paranormal 3”, considerado por muitos como o melhor da franquia (eu incluso), com a melhor qualidade técnica até então com uma história passada nos anos 80 mostrando as origens da influência sobrenatural sobre a família da protagonista.
Infelizmente a partir daí a franquia começou a entrar em declínio, tanto em recepção dos críticos quanto nas bilheterias. “Atividade Paranormal 4” (2012) trouxe a franquia de volta para o presente com algumas ideias muito interessantes, como a cena com o Xbox, mas não foi o suficiente para livrar o filme das soluções fáceis do roteiro. Servindo como continuação e derivado voltado para o público latino “Atividade Paranormal – Marcados Pelo Mal” (2014) aproximou o terror do subgênero dos super-heróis, mas teve uma das piores arrecadações da série. “Atividade Paranormal: Dimensão Fantasma” (2015) trouxe o 3D pela primeira vez, mas pouco acrescentou à trama e a franquia se despediu dos cinemas de forma melancólica.
A série “Atividade Paranormal” segue agora na memória dos aficionados por cinema e dos incontáveis fãs de terror. A franquia já está com data marcada para retornar aos cinemas, 4 de março de 2022 e contará com o retorno do produtor Jason Blum, responsável por incontáveis filmes do gênero nas últimas duas décadas.