Nesta semana em que é comemorado o Dia das Bruxas, a Poltrona Vip está fazendo uma série de textos, analisando e relembrando alguns clássicos modernos do terror. Depois das franquias “Pânico” e “Atividade Paranormal”, do fenômeno “Corra!“ e da série “American Horror Story“, hoje é a vez da franquia que lava o nome do feriado estadunidense: “Halloween”.
Os filmes slasher, que hoje conhecemos como um dos mais populares subgêneros do terror, ainda estava engatinhando quando o então diretor estreante John Carpenter idealizou a figura de Michael Myers ao lado de Debra Hill. “Psicose” (1960), a obra prima de Alfred Hitchcock e “O Massacre da Serra Elétrica” (1974), clássico de Tobe Hooper são dois exemplos perfeitos que foram replicados em diversas outras franquias. Mas foi depois de “Halloween“, lançado em 1978 que o formato realmente se popularizou.
Na trama do filme, durante a noite do Halloween de 1963, o jovem Michael, de apenas seis anos, assassina brutalmente Judith, sua irmã mais velha de 17 anos. Ele foi sentenciado e preso por quinze anos. Mas no dia 30 de outubro de 1978, enquanto era transferido por conta de um compromisso num tribunal, Myers rouba um carro e foge da instituição Smith’s Grove. Ele retorna para a pequena cidade de Haddonfield, Illinois, onde sai em busca de suas próximas vítimas.
O longa é protagonizado por Jamie Lee Curtis (filha de Janet Leigh, a scream queen original, estrela de “Psicose“), aos 19 anos, no icônico papel da babá Laurie Strode, o primeiro de sua carreira, sendo basicamente a primeira, e mais famosa, final girl da história do cinema. Ao contrário de muitos filmes do gênero, o propósito aqui não é chocar pela contagem de corpos ou pela quantidade de sangue jorrando em cena, mas sim construir bem toda a sensação de suspense e medo pela qual passa a personagem principal. Carpenter conduz o filme com bastante calma e cautela com ângulos e movimentos de câmera que não denunciam o baixíssimo orçamento do projeto.
A maior parte dos noventa minutos de duração da produção é do assassino se escondendo, se esgueirando em ambientes pouco iluminados, observando suas futuras vítimas. “Halloween” trata seu antagonista quase como um animal caçando à espreita de sua próxima presa. A calma na construção da narrativa é tanta que o primeiro assassinato a ser cometido depois da fuga de Michael ocorre só depois da metade do filme. E é nessa calma que mora a agonia que o longa causa. A expectativa pela ação, ao lado da excelente trilha sonora, criam toda a tensão necessária para causar tanto medo na plateia.
“Halloween” é considerado tão inovador que foi com ele que muito do que, um dia, se tornariam convenções do gênero foram iniciadas. As famosas regras do que se deve ou não fazer em um filme de terror, como foi mencionado no metalinguístico “Pânico” (1996), se popularizaram pelo sucesso causado pelas decisões criativas de John Carpenter. O fato da única personagem a não ter feito sexo em cena ter sobrevivido (nesse caso não se pode dizer o mesmo do uso de drogas), por exemplo virou um enorme clichê nesse tipo de produção.
Com um orçamento comparável ao de filmes independentes, feito com apenas US$ 325 mil, “Halloween” fez um grande sucesso para a época, arrecadando cerca de US$ 47 milhões nas bilheterias norte-americanas. Mas o impacto maior não foi financeiro e sim cultural. Graças à criação de Carpenter e Debra Hill foram feitos outros grandes sucessos slasher como “Sexta-Feira 13” (1980), “A Morte Convida para Dançar” (1980), que também foi protagonizado por Jamie Lee Curtis, “Dia dos Namorados Macabro” (1981), “A Hora do Pesadelo” (1984), “Brinquedo Assassino” (1988) e “Pânico” (1996).
Com o passar dos anos a franquia ganhou várias sequências e remakes. “Halloween II” (1981) foi a primeira, muito criticada por não levar a história para lugar nenhum. “Halloween III: Noite das Bruxas” (1982), “Halloween 4: O Retorno de Michael Myers” (1988), “Halloween 5: A Vingança de Michael Myers” (1989) e “Halloween 6: A Última Vingança” (1995), passaram levando a série para um fraco patamar de capítulos sem propósito.
Em 1998 “Halloween H20“, vinte anos após o lançamento do original, Curtis retornou para a franquia, em uma história melhor contada e realizada, com sua personagem tentando seguir em frente com sua vida, morando no interior da Califórnia. Com o sucesso do longa, o estúdio deu sinal verde para “Halloween: Ressurreição” (2002), infelizmente mais uma desastrosa sequência. Rob Zombie pegou para si a responsabilidade de roteirizar e dirigir um remake em 2007. “Halloween” não foi muito bem recebido, mas teve público o suficiente para gerar uma sequência em 2009 igualmente mal recebida por crítica e audiência.
Quarenta anos depois da estreia do original, em 2018 foi lançada o que provavelmente será conhecida como a sequência/reboot definitiva da franquia. “Halloween” (sim, com o mesmo título que o original), trouxe a de volta Jamie Lee Curtis para a série em uma sequência direta do longa de 1978, ignorando todos os outros filmes lançados. Com US$ 255 milhões arrecadados mundialmente, a trama conta com uma Laurie traumatizada pelos fatídicos acontecimentos de sua adolescência. Ela passou toda a sua vida adulta se preparando para o retorno do assassino e transferiu toda essa paranoia para sua filha Karen (Judy Greer), o que causou uma grande dificuldade no relacionamento das duas e a afastou da criação de sua neta Allyson (Andi Matichack).
Com traumas como assunto central da trama, o diretor e roteirista David Gordon Green usou a trama para tratar também de feminismo e autoritarismo. Com todos os personagem masculinos principais morrendo ou falhando com suas contrapartes femininas. A questão aqui é uma história de retomada da voz dessas mulheres, da força e de sua luta contra uma figura cruel e destruidora como a de Michael Myers.
A franquia “Halloween“ está disponível no Amazon Prime Video e está com sua volta aos cinemas marcada para 15 de outubro de 2021 com “Halloween Kills“, cuja primeira prévia você pode conferir abaixo: