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Festival Negritudes reúne Lázaro Ramos, Taís Araujo e Hugo Gloss no Rio de Janeiro; saiba mais!

Globo/Lilo Oliveira

O Festival Negritudes foi palco de encontros emocionantes, celebração da ancestralidade e discussões sobre a potência da presença negra no audiovisual brasileiro na última sexta-feira, 17. O evento aconteceu no Galpão da Ação da Cidadania na Gamboa, Rio de Janeiro, e recebeu mais de 1,5 mil pessoas.

Ao longo de todo dia, o público pôde acompanhar presencialmente mesas que exaltaram as raízes afro-brasileiras, a profunda conexão com o continente africano e reivindicaram mais inclusão e representatividade nas produções audiovisuais no país. O evento ficará disponível no Globoplay para quem quiser ver e rever.

Ronald Pessanha, líder do Negritudes Globo, conta que a Plataforma Negritudes já vai para o seu quinto ano e surgiu a partir de um anseio de ampliar o debate sobre as narrativas negras, fazendo com que o mercado audiovisual dê mais luz e foco para essa pauta. “O Festival Negritudes é parte da Plataforma Negritudes. Movimento que conta com ações internas, imersões e campanhas institucionais. Ela vem crescendo nos últimos cinco anos e, em 2024, ampliamos ainda mais ao levar o Festival Negritudes para três cidades diferentes. Além dessa edição no Rio, estaremos em Salvador, no dia 18 de julho, e em São Paulo, em agosto.”, disse Ronald. 

Pessanha ainda anuncia mais novidades: “Outra novidade é a ampliação das mentorias, conectando profissionais negros da Globo com profissionais negros do mercado e promover ainda mais inclusão preta no audiovisual. Desse modo, conseguimos inspirar ainda mais pessoas e nos conectar mais com o próprio Brasil”

Sucesso e Inspiração

O primeiro painel, “Sucesso e Inspiração”, foi mediado pela apresentadora Maju Coutinho, com participação da atriz Regina Casé, do criador de conteúdo Hugo Gloss e da apresentadora Thelminha de Assis. Uma conversa que celebrou as conquistas e reiterou a importância da busca pela realização dos sonhos, servindo de inspiração para outras pessoas negras. 

Regina destacou a importância de abrir caminhos. “Não quero ser a voz dos pretos da TV, mas quero iluminar e ser ponte para essas pessoas”, reforçou a artista, citando o programa Esquenta, que ficou no ar durante sete anos na TV Globo e apresentou ao grande público o cantor Mumuzinho

Gloss falou sobre a sua trajetória e os esforços em derrubar barreiras e seguir em busca dos seus sonhos em suas áreas de atuação. “Ser inspiração, se reconhecer pelo outro leva a gente a seguir em frente”, afirmou. Já Thelminha, que atua como apresentadora, modelo e médica, além de ser apaixonada por Carnaval, definiu: “Sucesso é a gente conseguir sair do lugar que nos colocaram, dos nãos que a gente ouviu”.

Gente preta feliz

Com a frase “Quando a mulher negra se movimenta, toda a estrutura da sociedade se movimenta com ela”, da ativista e intelectual Angela Davis, a jornalista Aline Midjei abriu a segunda mesa do dia. A conversa sobre a alegria da cultura afro-brasileira, com participação de Sheron Menezzes, do fotógrafo Wendy Andrade, da CEO da Nhaí! Raquel Virginia e do influenciador Julio de Sá. A importância de quebrar o paradigma da narrativa de sofrimento imposta aos negros e mostrar que sorrir também é resistir foi o fio condutor da troca.

Sheron relembrou da Sol, a primeira protagonista da carreira em “Vai na Fé”, que mesmo com as adversidades da vida, nunca deixou de sorrir. “A Sol tinha a felicidade no seu rosto. Ser feliz é nosso direito. A criança nasce feliz até que alguém diz: ‘nossa que cabelo feio’ e essa felicidade é minada. Precisamos construir a autoestima dessas crianças, pois quando a gente faz isso, não tem quem diga que ela é feia”

Sobre os momentos que o trazem felicidade, Wendy Andrade citou: “Valorizo as minhas pequenas vitórias, como conseguir ir a um restaurante e não precisar pensar no valor da conta; ou poder fazer mais pelos meus pais”.  O fotografo Wendy está preparando o livro “Eu Consigo te Ver Feliz”, em que reuniu fotografias de crianças saltando na Baía de Todos os Santos (BA) e na Baía de Guanabara (RJ). 

Júlio revelou que estar no evento é um momento de muita felicidade, principalmente por ter seu pai e amigos na plateia. “Trabalhei como produtor de eventos por um tempo, já cheguei a dormir nesse chão [do Galpão]. Então ter meu pai aqui, um homem negro, sensível, na plateia, é um momento de muita alegria.”, disse emocionando a todos.Raquel comentou sobre a importância de acessar as belezas negras no teatro, na literatura e no cinema. “Um livro de Machado de Assis, um homem negro, jamais será apagado. É preciso acessar a negritude do ponto de vista eterno, porque seremos eternos”, finaliza.

Multilinguagens e Multiversos

Com uma apresentação do músico Jonathan Ferr, talento do jazz, a terceira mesa do dia trouxe como tema as multilinguagens do audiovisual e os profissionais que trazem nessa diversidade histórias tão coletivas e ao mesmo tempo tão peculiares. A conversa foi mediada por Kenya Sade, com a presença da diretora Luisa Lima, o autor e diretor Elísio Lopes, o pianista Jonathan Ferr e o empresário Kondzilla.

“Por ser  uma voz plural me sinto livre neste momento. A responsabilidade com a telenovela no Brasil é muito grande porque foram muitos anos ouvindo o que a gente não queria ouvir. Temos que combater uma série de dores e reverter em boas histórias.”, comentou Lopes.  

“A gente escancara diversas formas de opressão e violência sofridas por mulheres negras, indígenas, trans e idosas”, comentou Luisa Lima, que comentou sobre a obra “Histórias Impossíveis”.  A diretora ressalta, ainda, que acredita na liberdade da TV como uma forma de coragem para apresentar novas experiências por meio dela. Já Ferr enxerga a liberdade como uma grande potência criadora. “Liberdade é paz e movimento. Quem não se movimenta não percebe as correntes que o aprisiona. Me libertei artisticamente e me permiti não ligar para opinião de ninguém”, afirmou.

Histórias que atravessam um oceano

O poder da arte nas conexões e a potência da representatividade permeou a conversa entre a atriz congolesa Prudence Kalambay, Lázaro Ramos e Tais Araújo, mediada pela jornalista Lilian Ribeiro. Relembrando o encontro com Lázaro no Festival Negritudes 2023, em São Paulo, Prudence reiterou como o casal foi inspiração, inclusive, para que aprendesse a língua portuguesa, ao acompanhar novelas da Globo enquanto vivia em Angola. O sonho de conhecê-los foi um dos motivos que a trouxe para o Brasil. 

“O Brasil é um país de oportunidades e estou muito feliz de estar aqui. Sou uma artista e venho de um país que passou por muitas guerras. Estar perto desse casal é também mostrar a nossa representatividade e ancestralidade de verdade.”, disse Prudence Kalambay.

Comovida, Taís reforçou como a arte pode ser potente ao conectar vidas e histórias, como no caso de Prudence, refugiada do Congo. “É a coisa mais linda como a arte consegue transformar vidas, pessoas e povos. Podemos chamar esse encontro de o poder da arte”, reforçou.

A atriz enfatizou a evolução da TV brasileira ao trazer e criar narrativas negras no audiovisual e citou como exemplo a série “Mister Brau”. “A gente, enquanto público, precisa consumir essa mudança, é o tal do Black Money, que os americanos já entenderam há alguns anos”, enfatizou.

Lázaro citou sobre a vontade de ver os corpos negros em diversos tipos de histórias. “Essa diversidade tem me interessado e a possibilidade de a gente se produzir é um desafio. Inclusive eu fiz essa transição para o outro lado e fico feliz de ver novos produtores chegando, mostrando a potência das nossas histórias e da nossa presença nas suas histórias”, comentou o ator, que destacou três pilares importantes atualmente: representatividade, presença e representação positiva.

Tradições Negras Cariocas

Alexandre Henderson, o comentarista Milton Cunha, o carnavalesco da Portela André Rodrigues, a cantora Tati Quebra Barraco e o ator Jonathan Azevedo estiveram na mesa que encerrou o Festival Negritudes Globo no Rio de Janeiro, em uma conversa sobre as tradições negras cariocas.

Emocionado, o ator Jonathan contou como a literatura e a arte foram significativas na sua trajetória e o ajudaram a formar a sua personalidade. Inclusive, como pontos fundamentais para que conseguisse entender a sua própria história. “A única amizade sincera que eu tinha  era com a literatura”, contou. 

Cria da Cidade de Deus, Tati Quebra Barraco comentou como a música ‘Boladona’, que apareceu na novela ‘América’, mudou a sua vida e da sua família, tornando-se sucesso no Brasil inteiro. “Sou muito grata à Glória (Perez) que colocou quatro músicas minhas na novela”, afirmou. 

André Rodrigues comentou que é cada vez mais importante que as narrativas negras sejam contadas pelos próprios negros no carnaval carioca e já adiantou que o enredo da Portela em 2025 será em homenagem a Milton Nascimento. “A gente vive a escola de samba o ano inteiro e é importante trazer uma narrativa que faça sentido para toda essa multidão”

Cunha reverenciou os grandes momentos do carnaval carioca, dentre eles na década de 1980, com ‘Kizomba, Festa da Raça’, da Vila Isabel. “A gente não faz o carnaval porque a vida é boa, a gente faz o carnaval porque a vida tem que melhorar. E sem a negritude não haveria o deslumbrante samba carioca”, exaltou.

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Escrita por Otavio Pinheiro